Míldio: como identificar na lavoura de milho, em que condições tem maior ocorrência, principais formas de controle, fungicidas e mais!
Conhecido por causar danos de até 90% na produção de sorgo e em 44 países, o míldio é também uma preocupação para as lavouras de milho no Brasil.
Plantas de milho infestadas com Peronosclerospora sorghi podem até mesmo se tornar estéreis quando a infecção ocorre nos primeiros estádios, além de outros danos.
Por isso, aqui vamos apresentar as condições que favorecem essa doença, como identificá-la no campo e, claro, como fazer o manejo eficiente. Confira!
Míldio: o que favorece a doença e como ela ocorre
O míldio causado por Peronosclerospora sorghi (falso-fungo oomiceto) é uma doença presente no mundo todo e que afeta as culturas de milho e sorgo. No Brasil, há relatos de ocorrência em diversas regiões produtoras, sendo os casos mais graves e recentes no Centro sul e agreste de Sergipe.
Embora atendam pelo mesmo nome de míldio, na cultura da soja a doença é causada pela espécie Peronospora manshurica.
Outra doença confundida com o míldio é o oídio, que apresenta sintomas parecidos, mas que ocorre na época seca e majoritariamente em soja e cucurbitáceas.
Quais as condições que favorecem o míldio em milho
Em geral, a doença é favorecida por temperatura moderada e umidade relativa alta. A produção de conídios (esporos do falso-fungo) está relacionada a umidade relativa superior a 80% e a temperatura ótima para esporulação entre 21 e 25°C.
Para a infecção na planta ocorrer, são necessários um período de molhamento e temperatura entre 10 e 33 °C, por 4 h. Normalmente os sintomas se manifestam sete dias após a infecção.
Por isso, muitas vezes em uma mesma região com inóculo do patógeno podemos ter anos em que há grande incidência da doença, e outros em que ela não ocorre devido ao ambiente menos favorável.
Além disso, o patógeno é um parasita obrigatório, ou seja, não se reproduz em restos culturais, sendo totalmente dependente dos hospedeiros, o que facilita um pouco o seu manejo. Ele também tem estruturas de resistência que podem ficar no solo por vários anos
No entanto, um fator importante é que ele se reproduz e sobrevive em hospedeiros secundários, como plantas daninhas que permanecem na entressafra, áreas de pousio e às margens de rodovia, sendo o capim-massambará (Sorghum halepense) o mais difundido no Brasil.
Sintomas: Como reconhecer se há míldio na lavoura de milho
O míldio é um oomiceto (falso fungo) e apresenta as fases assexuada e sexuada no seu ciclo de vida.
A fase assexuada geralmente produz lesões localizadas que se caracterizam por manchas cloróticas e retangulares, além de serem limitadas pelas nervuras laterais.
Pode também apresentar crescimento pulverulento branco nas folhas (aspecto de algodão, que são os conídios) em condições úmidas e frias .
Já na reprodução sexuada, ocorre a infecção sistêmica, causando estrias verdes e cloróticas paralelas, além de folhas mais estreitas e eretas, como você pode ver abaixo:
Em estádios avançados dessa infecção sistêmica, especialmente em sorgo, as folhas se rasgam pela ação do vento e os oósporos são liberados infestando o solo, onde podem sobreviver. Além disso, nas infecções avançadas é comum haver a esterilidade das plantas, não havendo a formação de espigas.
Outro sintoma bem característico são os pendões deformados apresentando estruturas filoides (aspecto de folha) característica denominada pendão-louco ou “crazy top”, sendo que abaixo você pode ver como é esse sintoma:
Como combater o míldio em milho
O manejo preferencial para o míldio é através da resistência genética de cultivares. Ou seja, se sua região tem problemas com essa doença, prefira híbridos com maior resistência. A Sementes Biomatrix possui tais híbridos, como o BM 930 e BM 709.
Aliado a isso, o controle cultural é fundamental para o controle efetivo da doença. A rotação com culturas não hospedeiras é um bom exemplo e essa medida é mais fácil de ser feita no Brasil, já que a doença ataca somente as culturas de milho e sorgo no país.
As medidas culturais de controle de tiguera do milho e sorgo, bem como das plantas daninhas hospedeiras, também reduzem sensivelmente o inóculo e a sobrevivência do patógeno ao longo dos anos. Essa técnica é eficiente especialmente nas áreas em que os oósporos são a principal fonte de infecção e a infestação do solo é severa.
Aração profunda é outra prática eficaz, porém cara, para reduzir a incidência de míldio, principalmente a quantidade de oósporos na camada superficial do solo. A semeadura antecipada também é uma boa opção para regiões que costumam possuir grande quantidade de inóculo.
Controle químico: Fungicidas para míldio
O metalaxil é o produto mais difundido para o controle de P. sorghi, sendo um fungicida sistêmico absorvido pelas folhas, caules e raízes. O produto inibe a síntese de proteínas do patógeno e pode ser aplicado de várias formas para o controle da doença.
O método mais comum é a utilização do produto no tratamento de sementes, lembrando que ele não afeta a germinação dos esporos ou a penetração do patógeno no hospedeiro, mas inibe o seu desenvolvimento.
A avaliação do controle e/ou resistência geralmente é feita pela incidência de plantas com a doença (% de planta doentes), mas também é possível avaliar a severidade de míldio através da escala abaixo.
Escala para avaliação de severidade de Míldio (Lal e Singh, 1984). (AR – altamente resistente, R – resistente, MR – moderadamente resistente, MS – moderadamente suscetível, S -suscetível).
Manejo integrado
A combinação de medidas de controle é extremamente benéfica. Por exemplo, o uso de um híbrido resistente combinado com um tratamento de sementes com fungicida reduz o risco do patógeno se tornar resistente ao produto e prolonga a vida da tecnologia do híbrido.
Veja também nossos artigos sobre enfezamento no milho e mancha-branca no milho!
Conclusão
Aqui mostramos que o míldio ocorre principalmente em temperaturas amenas a moderadas e em ambientes com umidade alta.
Você conferiu também as medidas para um manejo mais eficiente, como a adoção de híbridos de milho mais resistentes, controles culturais e fungicidas.
Bibliografia
*Colaboração de Jeferson Rodrigo Pestana, engenheiro agrônomo, mestre em fitopatologia especialista em Proteção de Plantas
LAL, S.; SINGH, I. S. Breeding for resistance to downy mildews and stalk rots in maize. Theoretical and applied genetics, v. 69, n. 2, p. 111-119, 1984.
CABI, 2020. Invasive Species Compendium. Wallingford, UK: CAB International. www.cabi.org/isc.
Você já teve problemas com míldio na sua área? Conhece um manejo que não citamos aqui? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!