Plantabilidade: entenda o que significa, como calcular o número de plantas e de adubo por metro linear e mais!
A semeadura do milho é um processo muito importante e contribui em grande parte com o sucesso produtivo da lavoura.
Para o produtor conseguir uma excelente plantabilidade ele deve estar atento a uma série de fatores, tais como: as sementes, o trator e a semeadora, o solo, sistema de plantio e a velocidade de semeadura.
Se ao menos um desses fatores não estiverem em conformidade, a plantabilidade pode ser comprometida e, consequentemente, teremos um decréscimo na produtividade.
Confira este artigo e entenda mais sobre cada um desses fatores que certamente vão fazer a diferença no sucesso da sua plantabilidade!
O que é plantabilidade?
Plantabilidade significa depositar as sementes no sulco de plantio na mesma profundidade e distante umas das outras o mais uniforme possível
Uma boa plantabilidade começa no momento da aquisição das sementes. O produtor deve procurar uma empresa idônea, que forneça uma semente de qualidade, com alto potencial genético, vigor e germinação, livre de patógenos e impurezas.
Fique atento às máquinas agrícolas para uma boa plantabilidade
No momento da compra da semente, o produtor também já deve se informar sobre qual a população recomendada para o híbrido. Feito isso, precisamos saber se o mecanismo dosador é mecânico (disco e anel) ou pneumático (sistema à vácuo), pois devem ser ajustados em função das sementes.
Para a escolha do disco e do anel adequado levamos em consideração o tamanho e formato das sementes, sendo que na sacaria vem uma recomendação que pode ajudar o produtor nessa seleção.
Na semeadora pneumática, a pressão do sistema à vácuo também deve ser calibrada de acordo com o tamanho e formato das sementes. É importante observar o estado de conservação do trator e da semeadora e se estes passaram por uma manutenção prévia.
O trator e a semeadora devem estar com a manutenção em dia. Se ambos não estiverem em boas condições, a operação é comprometida. O produtor deve observar se há alguma peça que sofre maior desgaste e acaba sendo danificada durante a semeadura.
É importante que ele já tenha essas peças para reposição, caso seja necessário, para não precisar interromper a operação ou continuar executando de forma inadequada.
Em resumo, as manutenções e calibrações recomendadas pelo fabricante devem ser seguidas sempre. Trator e semeadora revisados e em boas condições, disco e anel selecionados ou pressão calibrada, e conhecimento da população recomendada, o próximo passo é regular a semeadora.
Podemos começar pelo marcador de linha. Esta é uma importante ferramenta para o operador posicionar a semeadora na distância correta das linhas já semeadas.
A fórmula para regular a distância do marcador é a seguinte:
Em que:
D = distância da última linha da semeadora ao disco do marcador de linha (m);
E = espaçamento entre linhas (m);
N = número de linhas;
B = bitola do trator (m).
Exemplo:
N = 6; E = 0,7 m; B = 2 m
D = 1,45 m
Como calcular o número e plantas por metro linear?
Agora podemos calcular a taxa de semeadura com base na população recomendada para o híbrido. Para uma população de 60.000 plantas por hectare e espaçamento entre linhas de 0,7 metros, por exemplo, nós devemos semear 4,2 sementes por metro linear. Esse cálculo é bastante simples, vejamos a seguir:
- 1 ha = 10.000 m²
- Espaçamento entre linhas = 0,7 m
- População = 60.000 plantas/ha
Para descobrir o número de metros lineares em 1 ha, basta dividir a área de 1 ha pelo espaçamento utilizado:
Em seguida, basta dividir o número de plantas por hectare (População) pela quantidade de metros lineares de 1 ha, ao se utilizar o espaçamento de 0,7m:
Cálculo de adubo por metro linear
Para o cálculo do adubo, basta seguir o mesmo raciocínio utilizado para o cálculo de sementes por metro. Se vamos realizar uma adubação de 330 kg de 10-30-10/ha, basta dividir os 330 kg pelos 14.285,7 metros da conta anterior. Isso nos dá 0,0231 kg/m ou 23,1 gramas/m.
Devemos avaliar quanto está sendo liberado de sementes e adubo, utilizando a medida do perímetro da roda motriz da semeadora.
Por exemplo, se a roda motriz tem 2 metros de circunferência, se girarmos a roda com as mãos 5 vezes, teríamos percorrido 10 metros. Utilizando os valores dos exemplos anteriores, temos que chegar a 42 sementes e 231 gramas de adubo nesses 10 metros.
A aferição deve ser feita em todas as linhas da semeadora. Essa etapa da regulagem pode ser feita no galpão, mas é imprescindível que seja feita a conferência no campo e avaliada a profundidade e a distribuição das sementes ao longo do sulco de semeadura.
Neste momento, devemos observar se as sementes estão sendo depositadas na mesma distância umas das outras e na profundidade correta.
Considerando o exemplo anterior, em 1 metro linear nós temos 4,2 sementes, dessa forma, as sementes devem ser depositadas a uma distância de 23,8 cm umas das outras.
Com relação a profundidade, esta pode variar de acordo com a textura do solo e com o sistema de plantio.
Em estudo realizado por Bottega et al (2019), foi observado que em 3 diferentes velocidades de semeadura não houve interferência na qualidade da semeadura nas profundidades avaliadas de 3 e 5 cm.
Silva et al (2015) avaliaram a emergência das plântulas de milho nas profundidades de 2 a 8 cm e observaram que nas profundidades de 6 e 8 cm foram obtidos os melhores resultados por proporcionarem melhor umidade para as sementes.
Em outro trabalho foram avaliadas as profundidades de 2,5, 5, 7,5 e 10 cm. Devido a temperaturas mais baixas na profundidade de 10 cm, houve um impacto negativo na emergência de plântulas (SANGOI et al, 2004). Em linhas gerais, adota-se uma variação de 3 a 7 cm de profundidade.
Em solos arenosos, a profundidade pode ser maior do que em solos argilosos afim de propiciar um ambiente melhor para a semente, visto que solos arenosos perdem umidade mais facilmente do que solos argilosos.
Quando é utilizado o plantio direto e há presença de palhada, a qual ajuda a manter a umidade do solo, podemos trabalhar numa profundidade menor.
Além disso, é importante salientar que na presença de palhada, deve ser observado se o disco de corte está cortando a palhada de forma eficaz.
Disco de corte com pouca pressão ou desgastado pode não promover o corte adequado da palhada, principalmente se houver uma camada densa ou presença de touceiras. Isso pode causar o “envelopamento” das sementes, que nada mais é do que a semente ficar envolta pela palhada sem o devido contato com o solo.
A velocidade afeta na qualidade da semeadura?
A velocidade de semeadura afeta a qualidade da mesma e também deve ser ajustada. Semeadoras pneumáticas conseguem realizar esse trabalho numa velocidade um pouco superior, de até 8 km/h, sem comprometer a plantabilidade.
Já para as semeadoras mecânicas, a velocidade que resultará numa melhor plantabilidade varia de 5 a 6 km/h. Velocidades superiores, tanto em semeadoras mecânicas, quanto em semeadoras pneumáticas, diminuem a qualidade da semeadura, afetando diretamente a distribuição das sementes (BOTTEGA et. al, 2014; FERREIRA et. al, 2019).
Como avaliar a plantabilidade?
Depois de seguir todos esses passos e realizar a semeadura, é preciso avaliar a plantabilidade e saber se a semeadura foi realizada de forma satisfatória.
Uma forma de avaliarmos a plantabilidade é através do cálculo do Coeficiente de Variação (CV):
Em que:
s = desvio padrão da amostra;
X = média amostral
E como interpretar o CV?
Até 15% = dados homogêneos
Entre 16 e 30 % = dispersão média (Aceitável até 25%)
Acima de 30 % = Alta dispersão
No campo, faremos uma amostragem de 5 pontos por talhão. Cada ponto é composto por 5 linhas de 5 metros. Vejamos o exemplo a seguir:
No exemplo hipotético acima, estão em destaques falhas e duplas. Classificamos como plantas duplas quando a distância é igual ou inferior a metade do espaçamento teórico.
Levando em conta o valor de 23,8 cm, quando a distância de uma planta para outra for menor ou igual a 11,9 cm, consideramos como plantas duplas. Classificamos como falhas quando a distância de uma planta para outra é igual ou maior a 1,5 vezes o espaçamento teórico. Nesse caso, quando a distância for igual ou maior a 35,7 cm.
O cálculo do CV não é difícil, mas também não é rápido se feito de forma manual. Para facilitar a utilização dessa ferramenta no campo, há alguns aplicativos para celular que calculam o CV e são bem fáceis de usar.
Eles podem ser baixados pelo Play Store ou App Store, se o sistema do seu celular for Android ou IOS, respectivamente, basta digitar “estatística” na pesquisa e aparecerá uma lista de aplicativos que podem te ajudar com esse cálculo.
Conclusão
Aqui foi possível detalhar os principais fatores que interferem no sucesso da plantabilidade. Em cada um deles é preciso atenção e cuidados para que tudo ocorra adequadamente.
Dessa maneira, começamos o cultivo da melhor maneira possível e damos os primeiros passos para uma safra de alta rentabilidade!
Bibliografia
*Colaboração: Wallace Borges de Matos, Coordenador de Serviços Técnicos (CST) da Biomatrix. Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Mestre em Agricultura e Biodiversidade na área de Entomologia pela UFS.
BOTTEGA, Eduardo Leonel; BRAIDO, Roberson; PIAZZETTA, Hugo von Linsingen; OLIVEIRA, Antonio Mendes de; GUERRA, Naiara. Efeitos da profundidade e velocidade de semeadura na implantação da cultura do milho. Pesquisa Agropecuária Pernambucana, [S.L.], v. 19, n. 2, p. 74-78, 2014. Instituto Agronomico de Pernambuco. http://dx.doi.org/10.12661/pap.2014.011.
FERREIRA, Francielle Morelli; OSS, Leonardo Luis; CARNEIRO, Márcia de Almeida; LITTER, Felipe Adolfo. DISTRIBUIÇÃO LONGITUDINAL NA SEMEADURA DO MILHO COM SEMEADORAS DE PRECISÃO MECÂNICA E PNEUMÁTICA. Nativa, [S.L.], v. 7, n. 3, p. 296, 30 abr. 2019. Nativa. http://dx.doi.org/10.31413/nativa.v7i3.7553.
SANGOI, Luís; ALMEIDA, Milton Luiz de; HORN, Delson; BIANCHET, Paula; GRACIETTI, Marcos Antônio; SCHMITT, Amauri; SCHWEITZER, Cleber. TAMANHO DE SEMENTE, PROFUNDIDADE DE SEMEADURA E CRESCIMENTO INICIAL DO MILHO EM DUAS ÉPOCAS DE SEMEADURA. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, [s. l], v. 3, n. 3, p. 370-380, 2004.
SILVA, Paulo Roberto Arbex; DIAS, Patrícia Pereira; CORREIA, Tiago Pereira da Silva; SOUSA, Saulo Fernando Gomes de. EMERGENCIA DE PLÂNTULAS DE MILHO EM DIFERENTES PROFUNDIDADES DE SEMEADURA. Irriga, [S.L.], v. 1, n. 1, p. 178-185, 12 jun. 2015. Brazilian Journal of Irrigation and Drainage – IRRIGA. http://dx.doi.org/10.15809/irriga.2015v1n1p178.