Principais Doenças do Sorgo

Doenças do Sorgo: Conheça os agentes causais, como identificar, medidas de controle e muito mais!

As doenças estão entre os diversos fatores que afetam a produtividade das culturas agrícolas. O sorgo é suscetível a diversas doenças que, dependendo da suscetibilidade do híbrido, afetam a produção de grãos e forragem e, consequentemente, o peso da matéria verde e seca final das plantas. O ano agrícola também interfere nas condições ambientais favoráveis ao ataque de patógenos, que pode influenciar na incidência e severidade das doenças de uma safra para outra em uma determinada região onde o sorgo é cultivado.

No Brasil, entre as doenças de maior importância econômica que comprometem a cultura do sorgo, tem-se: antracnose (Colletotrichum sublineola), ferrugem (Puccinia purpurea), helmintosporiose (Exserohilum turcicum) e míldio (Peronosclerospora sorghi).

Antracnose

A antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum sublineola, é uma das doenças mais importantes na cultura do sorgo, sendo detectada em praticamente todas as áreas onde o sorgo é cultivado. Regiões tropicais de clima quente e úmido, e regiões de clima temperado com altas temperaturas no verão constituem o ambiente favorável ao ataque do patógeno. A disseminação da doença ocorre, principalmente, por meio de respingos de chuva e ventos. O fungo sobrevive em restos de cultura que ficam na superfície do solo, hospedeiros secundários e sementes.

O fungo ataca o colmo, as folhas e a panícula das plantas. A antracnose das folhas é considerada a mais severa, pode ocorrer em todas as fases de desenvolvimento da planta e os sintomas podem ser observados de 30 a 40 dias após a infecção. Nas folhas surgem necroses de coloração palha, com margens que variam na coloração de acordo com a pigmentação do híbrido, sendo normalmente avermelhadas ou castanhas. Os sintomas também são observados na nervura central, caracterizados por lesões alongadas de coloração escura avermelhadas ou castanhas (Figura 1).

Figura 1 – A) Sintomas da antracnose na nervura central das folhas de sorgo. B) Sintomas iniciais no limbo foliar. C) Sintomas severos e coalescência das lesões, seguido da esporulação do fungo.

Sintomas da antracnose na nervura central das folhas de sorgo
Fonte: Jurandir Pereira Segundo; Everton Vieira de Carvalho.

Os conídios produzidos nas folhas são fonte de inóculo para a podridão de colmo e antracnose da panícula. A fase da podridão de colmo ocorre a partir da maturação das plantas. Internamente, a necrose dos tecidos vasculares são caraterizadas por lesões avermelhadas a escuras. Após a podridão do colmo ocorre a fase da infecção da panícula. As panículas infectadas ficam menos desenvolvidas e amadurecem de forma precoce, causando esterilidade parcial e redução na produção de grãos.

Como controlar a Antracnose?

A principal medida para controlar a antracnose é o uso de híbridos geneticamente resistentes, mas é dificultado pela alta variabilidade do patógeno. O controle químico, com fungicidas aplicados no tratamento de sementes complementado com pulverizações foliares, são eficientes para a redução de inóculo. É preciso sempre monitorar a lavoura para observar o início dos sintomas, e assim, tomar a decisão de aplicar o controle químico. Práticas como rotação de culturas, rotação de híbridos, e eliminação/incorporação de restos culturais e controle de hospedeiros secundários são importantes na redução do inóculo primário.

Helmintosporiose ou turcicum

A helmintosporiose do sorgo é causada pelo fungo Exserohilum turcicum. É uma doença foliar disseminada em áreas onde há predominância de temperaturas noturnas amenas e alta umidade. O patógeno é capaz de sobreviver no solo, seja nas glumas das sementes ou em restos culturais infectados. A penetração dos conídios na planta ocorre pela cutícula, principalmente pelo impacto de gotas de chuva. Os conídios também podem ser levados a longas distâncias pela ação do vento.

Normalmente os sintomas já podem ser observados antes da emergência da panícula. Em condições ambientais favoráveis ao patógeno, pequenas manchas surgem de três a quatro semanas após a infecção. Os sintomas são caracterizados por de lesões alongadas a elípticas, normalmente de coloração avermelhada ou castanha. O tamanho das lesões varia de acordo com o nível de tolerância do híbrido. As lesões apresentam um centro de coloração amarelada a cinza e margens avermelhadas ou castanhas dependendo do híbrido em questão. Em condições de alta umidade, esporos são produzidos sobre as lesões. Esses esporos servirão de fonte de inóculo para novas infecções em outras plantas na lavoura, iniciando assim os ciclos secundários da doença (Figura 2).  

Figura 2 – A) Sintomas iniciais da helmintosporiose nas folhas de sorgo. B) Sintomas avançados e coalescência das lesões.

Sintomas iniciais da helmintosporiose nas folhas de sorgo
Fonte: Jurandir Pereira Segundo.

Como controlar a Turcicum?

O controle inicial da doença é muito importante, uma vez que já foi observado que plantas de sorgo na fase vegetativa são mais suscetíveis. Assim, o uso do controle químico é uma ferramenta muito importante no manejo integrado. Pulverizações na fase vegetativa, antes do emborrachamento, são fundamentais para o controle da helmintosporiose no sorgo. Misturas de triazóis e estrobilurinas aplicadas aos 40 dias após a emergência das plantas tem sido eficiente na redução da doença. Contudo, é preciso estar sempre monitorando a lavoura para acompanhar a severidade da doença e tomar a decisão do melhor momento para fazer a aplicação, ou se ainda há necessidade de aplicar. A rotação de é uma alternativa que diminui os restos culturais infectados e, consequentemente, na redução do nível de inóculo primário na área.

Ferrugem

A ferrugem do sorgo é uma doença foliar causada pelo fungo Puccinia purpurea. O patógeno é um parasita obrigatório, ou seja, sua sobrevivência de uma safra para outra depende da presença de hospedeiros vivos. A ferrugem ocorre principalmente em ambientes de alta umidade e temperaturas amenas.

Os sintomas da ferrugem são observados inicialmente nas folhas mais baixeiras das plantas, no entanto, a ocorrência mais severa é observada após o florescimento. A disseminação do fungo dá-se, principalmente, a longas distâncias pela ação dos ventos. O inóculo primário é constituído por esporos denominados urediniósporos. Os sintomas são caracterizados pela formação de pequenas pontuações (pústulas) de coloração vermelha ou castanha, dependendo da pigmentação do híbrido (Figura 3). Aproximadamente 14 dias após a infecção a epiderme das pústulas amadurecidas rompem-se liberando uma massa de urediniósporos que iniciam uma nova disseminação da doença no campo.

Figura 3 – Pústulas de Puccinia purpurea em folhas de sorgo.

Pústulas de Puccinia purpurea em folhas de sorgo
Fonte: Everton Vieira de Carvalho

Como controlar a Ferrugem?

A principal medida de controle da ferrugem é a utilização de híbridos geneticamente resistentes. O controle químico com fungicidas aplicados via pulverização foliar é eficiente para a redução de inóculo. Em relação aos fungicidas, modos de ação do grupo químico das estrobilurinas tem apresentado resultados eficientes no controle da ferrugem.  O manejo de plantas daninhas é fundamental para diminuir o inóculo em hospedeiros secundários.

Míldio

O míldio é uma doença causada pelo oomiceto Peronosclerospora sorghi, disseminado em regiões de clima tropical e subtropical devido à ampla capacidade de adaptação do patógeno. P. sorghi é parasita obrigatório e sobrevive em plantas remanescentes da safra anterior e em gramíneas perenes que servem de hospedeiro secundário. Porém, as estruturas do patógeno denominadas oósporos são capazes de sobreviver no solo e em restos culturais, e são a fonte primária de inóculo. A disseminação do patógeno também se dá por meio de sementes infectadas e pelo vento. Plantas jovens quando infectadas se tornam estéreis e sofrem elevada redução na produtividade.

A infecção pelo patógeno pode ser sistêmica e localizada (Figura 4). A infecção sistêmica pelos oósporos é beneficiada pela baixa umidade e temperatura mínima do solo de 10 °C. Entretanto, devido à adaptabilidade do patógeno, já foi relatado a presença de míldio em regiões de clima tropical com temperaturas mais elevadas. Os sintomas típicos nas folhas da infecção sistêmica são a presença de faixas paralelas de tecidos verdes e tecidos cloróticos. A infecção localizada caracteriza-se por lesões retangulares, que acompanham as nervuras das folhas. A produção de conídios que ocasiona a infecção localizada é favorecida por alta umidade e temperatura em média de 18 °C.

Figura 4 – A) Sintomas de infecção sistêmica ocasionadas por oósporos em folhas de sorgo. B) Folhas rasgadas em plantas após infecção sistêmica. C) Sintomas de infecção localizada ocasionadas por conídios em folhas de sorgo.

Sintomas de infecção sistêmica ocasionadas por oósporos em folhas de sorgo
Fonte: Jurandir Pereira Segundo; Everton Vieira de Carvalho

Como controlar o Míldio?

O míldio do sorgo pode ser controlado pelo uso de híbridos resistentes e de sementes tratadas. O metalaxil é o ingrediente ativo mais utilizado para o controle do míldio. É um produto recomendado no tratamento de sementes, muito sistêmico e que é translocado das raízes para folhas e colmo. A incorporação de restos de cultura e o controle de plantas daninhas também são importantes medidas de controle.

Práticas que podem ajudar a reduzir a incidência das doenças no sorgo

Escolha sementes de qualidade; Rotação de híbridos; Rotação de cultura; Tratamento de sementes com fungicidas; Controle químico foliar com fungicidas; Controle de plantas daninhas; Manejo de população de planta; Época de plantio; Manejo do sistema plantio direto, e outras.

Impacto da mudança climática na incidência e severidade das doenças no sorgo

O ambiente pode sofrer mudanças frequentes entre safras ou até mesmo durante o ciclo da cultura (como um veranico ou uma frente fria, por exemplo), favorecendo ou desfavorecendo a incidência e severidade das doenças. O fator ambiental pode ser crucial para desfavorecer uma doença altamente destrutiva que já possui histórico em uma determinada região simplesmente pela condição de clima desfavorável ao patógeno. Visto isso, e como esse é um fator de difícil controle, o produtor pode se adequar ao clima ajustando a época de plantio, que de modo geral, dentro do ciclo da cultura, terá um ambiente de maior umidade e temperatura nos plantios mais cedo e de menor umidade com temperaturas mais amenas nos plantios mais tardios.

Monitore a presença de patógenos transmitida pelo solo

O monitoramento de patógenos do solo em uma área agrícola pode ser realizado pela amostragem em diferentes pontos do solo (a quantidade pode variar com o tamanho da área). A amostragem pode ser feita no próprio solo e nos restos culturais. Após a amostragem, deve ser feita uma amostra composta e esta será levada a um laboratório para uma diagnose molecular, a fim de detectar e quantificar os patógenos existentes na área.

Conclusão

Aqui mostramos informações gerais sobre algumas doenças que atacam a cultura do sorgo. É importante lembrar que o manejo integrado de doenças é apenas uma das ferramentas que devem aplicadas pelo produtor para que a máxima produtividade das culturas possa ser alcançada. Devemos entender melhor as doenças mais predominantes de cada região para estarmos aptos a tomar a melhor decisão de controle e evitar os prejuízos pela sua ocorrência

Referências Bibliográficas

*Colaboração de Everton Vieira de Carvalho, Engenheiro Agrônomo e Mestre em Ciências Agrárias pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Especialista em Proteção de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV); Doutor em Produção Vegetal pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Universidade Estadual Paulista (FCAV-UNESP). Pós-doutorado em Fitotecnia pela Embrapa Mandioca e Fruticultura.

*Colaboração de Jurandir Pereira Segundo, técnico em Agropecuária pela Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia, (EAF); Engenheiro Agrônomo pela Fundação Educacional de Ituiutaba – Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG); Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas pela Universidade Federal de Lavras (UFLA).

BARBOSA, Flávia C. Rufini; PFENNING, Ludwig H.; CASELA, Carlos R. Peronosclerospora sorghi, o agente etiológico do míldio do sorgo. Fitopatologia Brasileira, v. 31, p. 119-132, 2006.

CASELA, C. R.; FERREIRA, A. S. A helmintosporiose do sorgo. 2004.

COSTA, Rodrigo V. da et al. A antracnose do sorgo. Fitopatologia Brasileira, v. 28, p. 345-354, 2003.

FERREIRA, A. da S.; CASELA, C. R.; PINTO, NFJ de A. Manejo de doenças na cultura do sorgo. 2007.

Ferrugem (Puccinia purpurea) – Sorgo: https://www.agrolink.com.br/problemas/ferrugem_3183.html Acesso: 07/06/2024

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