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Doenças do milho: identificação e controle

Doenças do milho: veja as principais doenças da primeira e segunda safra, como identificá-las na área e quais os manejos mais indicados. 

O milho é uma cultura agrícola que cada vez mais ganha importância econômica e social no agronegócio brasileiro.  

O cereal tem diversos usos: alimento humano direto (como milho-verde, fubá e canjica), alimentação animal (como ração ou silagem) e mais recentemente é empregado como biocombustível em usinas de etanol. Ou seja, é um dos produtos mais versáteis da agricultura. 

Nos últimos 10 anos a cultura do milho passou por diversas mudanças, especialmente o maior cultivo na safrinha, sobretudo após a soja, além do sistema de plantio, como o plantio direto. 

Esse cenário teve forte impacto no complexo de doenças que atacam o milho. Aqui reunimos as principais doenças atualmente da cultura e como fazer seu manejo considerando esse novo cenário. Confira! 

Fatores que favorecem as doenças do milho

Safra versus Safrinha  

As doenças são dependentes do ambiente (como temperatura, umidade, etc.), hospedeiro (híbrido de milho) e patógeno. Com a transição da época de cultivo do verão para a safrinha o complexo de doenças predominantes no milho também vem mudando ao longo do tempo. 

Fonte: Conab, 2020 
Fonte: Embrapa

A safrinha de modo geral é caracterizada por ser um ambiente mais estressante para a cultura do milho, devido as altas temperaturas e redução de chuvas ao longo do ciclo. Isso pode favorecer patógenos mais adaptados à essas condições.  

Por isso, geralmente na safrinha doenças como Cercosporiose, Ferrugem Polissora e podridão de Macrofomina podem ter relativa vantagem devido ao clima. Enquanto no cultivo de verão,  Helmintosporiose, Gibberella e Ferrugem Comum podem ser favorecidas.  

Também há doenças que conseguem se estabelecer tanto em safra como em safrinha, como a mancha-branca.  

Antecipação da semeadura do milho 

Outro fator que vem alterando a dinâmica das doenças do milho é a redução do ciclo da soja, o que proporciona antecipação da colheita desse grão, e, por consequência, adiantamento da semeadura do milho para o início de Janeiro no Mato Grosso.  

Essa mudança no sistema vem trazendo uma maior incidência de grãos ardidos (grãos contaminados com fungos) em decorrência principalmente do fungo de Diplodia (Stenocarpella spp.), já que durante a fase reprodutiva e de colheita ainda há incidência significativa de chuvas, umidade e alta temperatura. 

Maior população de plantas de milho

Há uma tendência de incremento da população de milho tanto na época de safrinha como na safra verão. Isso se deve a seleção de plantas com porte de espiga mais baixo, arquitetura foliar ereta e resposta de produtividade em altas populações.  

Ao mesmo tempo o adensamento de plantas também promove um microclima mais úmido e favorável às doenças do milho. Tendo isso em vista, é fundamental a seleção de cultivares mais adaptados ao sistema. Híbridos de milho como BM880, BM270 são boas opções para alta produtividade e tolerância as doenças. 

Mais recentemente a tecnologia dos fungicidas vem sendo amplamente utilizada em milho, permitindo o uso de híbridos com alto potencial produtivo, mas com resistência moderada às doenças.  

Geralmente as aplicações são efetuadas nos estádios V8 (8 folhas abertas) e Vt ( pré-pendoamento) o que permite uma boa proteção de todas as partes da planta, sobretudo as folhas da região da espiga. 

Uso de transgênicos e as doenças do milho 

O uso de transgênicos nos anos 2000 propiciou maior facilidade no controle de pragas e plantas daninhas na lavoura, com isso essa tecnologia foi amplamente adotada pelos agricultores chegando 90% da área cultivada.  

Um dos efeitos iniciais dessa adoção foi a redução do uso de inseticidas químicos para o controle de pragas, principalmente lagarta do cartucho.  

Logo, outras pragas consideradas secundárias e que eram controladas pelo uso dos inseticidas, foram favorecidas. Esse é o caso da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) que transmite os enfezamentos.  

Outro fator importante foi a sobrevivência das cigarrinhas no milho voluntário RR (tiguera) na soja RR. Esse cenário favoreceu o grande aumento dos enfezamentos do milho em 2016 e que vem se espalhando no Brasil ao longo dos anos. 

Quais as principais doenças do milho verão (1ª Safra)? 

Podemos citar rapidamente que são a Helmintosporiose (mancha de Turcicum) e a Ferrugem Comum. Veja detalhes dessas doenças a seguir. 

Helmintosporiose, Ht ou mancha de Turcicum 

A mancha foliar causada pelo fungo Exserohilum turcicum, a doenças pode ser conhecida como “HT”, mancha de turcicum ou Helmintosporiose. Ela é umas mais conhecidas e importantes da cultura do milho no Brasil. 

Ela á favorecida em ambientes alta umidade relativa do ar e temperaturas amenas, entre 18°C e 27°C, com ótima em 20°C.  

A presença de orvalho por mais de 5 horas também é um fator essencial para a multiplicação da doença. Em regiões com temperaturas noturnas moderadas e períodos nublados, as lesões podem ter desenvolvimento acentuado pela baixa luminosidade. 

Os sintomas nas folhas são formados por lesões grandes e elípticas, que vão de 5 cm a mais de 20 cm, podendo ser de coloração palha com bordas bem definidas, e lesões cloróticas com bordas amareladas. Veja abaixo as imagens desses sintomas: 

Importante ressaltar que a gravidade dessas lesões vai depender do grau de resistência do híbrido e das condições ambientais. 

Essa doença pode ser disseminada pela ação dos ventos e chuva, sendo que o fungo sobrevive na palhada do milho, favorecendo a alta severidade em cultivos sem rotação de cultura. 

Manejo da mancha de Helmintosporiose

Usualmente o controle dessa doença é feito integrando o manejo químico e a resistência genética.  

Há uma grande variabilidade no grau de resistência nos híbridos disponíveis no mercado. No caso de híbridos com uma suscetibilidade média para alta é recomendada a aplicação de fungicidas de forma preventiva, principalmente misturas de triazol com estrobilurina, que tem um bom efeito no controle dessa doença. 

Ferrugem Comum 

A doença da Ferrugem Comum é causada pelo fungo Puccinia sorghi, sendo que a doença tem distribuição em todo Centro-Sul do Brasil, mas com maior severidade nos estados da região Sul.  

No Brasil Central, em áreas de chapada com altitudes superiores a 900m, a doença também é beneficiada. 

Seu desenvolvimento é favorecido por temperaturas moderadas, em torno de 16 a 23ºC e umidade relativa alta.  

As pústulas são formadas tanto na parte superior quanto inferior da folha do milho (em contraste a Ferrugem Polissora que esporula principalmente na parte superior) e apresentam formato alongado, com coloração castanho avermelhada, conforme é possível observar abaixo: 

Manejo da Ferrugem Comum

O manejo dessa doença é feito usualmente com cultivares resistentes e também associação de fungicidas registrados para a cultura do milho. 

Quais as principais doenças do milho na Safrinha (2ª Safra)? 

Em geral, podemos citar a Podridão da Espiga por DIplodia e a Cercosporiose. Veja detalhes dessas doenças a seguir. 

Podridão de Espiga por Diplodia 

Dentre as podridões de espiga, uma das mais importantes para a região tropical é a podridão de Stenocarpella, também conhecida como Diplodia.  

Essa podridão é causada pelo Fungo Stenocarpella spp., o qual sobrevive na palhada do milho e pode infectar desde as plântulas, o colmo e a espiga do milho.  

Na espiga, a infecção começa a partir da base, iniciando com o micélio branco envolta dos grãos, sendo possível notar descoloração das brácteas. 

Com a evolução da doença os sintomas podem causar a podridão de toda a base, podendo causar até a mumificação total da espiga do milho.  

Os grãos oriundos dessa espiga são conhecidos como grãos ardidos, pois tem sua característica de cor alterada, além de ficarem mais leves do que os grãos sadios. 

Essa doença é favorecida por danos de insetos na espiga e estresses (seca ou tempo nublado) no momento do florescimento e excesso de chuva no final do ciclo.  

Manejo da Podridão da Espiga por Diplodia

A Podridão por Diplodia é uma doença de difícil manejo. As principais medidas de controle são a rotação de culturas, o manejo racional de fertilidade (equilíbrio K/N), população, controle de pragas e sobretudo resistência varietal, lembrando que para essa doença não foi observado resistência completa. 

Mancha de Cercospora, Cercosporiose 

A Cercosporiose do milho é mundialmente importante, devido à grande redução de produtividade. Durante um longo período, foi considerada uma doença secundária, por sua ocorrência esporádica e baixa severidade.  

Esse cenário mudou no início do ano de 2000, quando foram relatadas epidemias em alguns campos de sementes em Rio Verde e Jataí (GO). Nas safras seguintes, a epidemia avançou para toda a região Centro-Sul do Brasil. 

Os primeiros sintomas da Cercosporiose são constatados, frequentemente, na fase de floração, principalmente nas folhas baixeiras, colonizando o limbo foliar e provocando extensas áreas necróticas.  

Os sintomas da doença são caracterizados pela lesão retangular geralmente limitada pelas nervuras. Inicialmente as manchas podem ser cloróticas evoluindo para um tom castanho e acinzentado após esporulação.  

Lesões completamente desenvolvidas apresentam comprimento de 0,5 a 6,0 cm. Se as áreas adjacentes são infectadas, as lesões podem se juntar, dando a aparência de uma única lesão, como é possível observar na figura abaixo: 

As temperaturas ótimas para o desenvolvimento da cercosporiose ocorrem entre 22 e 30ºC. Estudos indicam que longos períodos de umidade relativa do ar próxima a 100%, mas na ausência de água livre sobre a folha, são importantes para o início da infecção. 

Restos culturais infestados compreendem a mais importante fonte de inóculo dentro de um campo. Os danos causados pela cercosporiose podem ser expressivos, ocasionando perdas de mais 70% devido a necrose foliar, deterioração no colmo e acamamento. 

Manejo da Cercosporiose

Como a doença tem alto potencial de dano, o manejo preventivo é imprescindível para obtenção de controle adequado e boas produtividades.  

Em áreas de histórico da doença, como Região do Brasil Central e Sudoeste de Goiás é recomendado o uso de híbridos que tenham resistência/tolerância à doença.  

Além disso, em áreas com plantio de cultivares suscetíveis ou sob condições ambientais favoráveis para a ocorrência da doença, o controle químico deve ser avaliado como uma opção para o manejo da doença. 

A fase considerada crítica para a cultura do milho, e que deve ser considerada quando se pretende proteger as plantas via aplicação de fungicidas, consiste entre V10 e a fase de grãos leitosos (R3), nesse período a planta de milho necessita do máximo de sua capacidade fotossintética, pois se inicia um intenso período de translocação de fotoassimilados para as espigas. 

Conclusão 

O complexo de doenças do milho mudou com a evolução do seu cultivo e aqui vimos as principais doenças que agora atingem a cultura. 

Aqui você pôde também verificar quais as condições que favorecem essas doenças e como identificá-las na sua área. 

Citamos também quais os tipos de manejos mais indicados para que você não tenha perdas em produtividade! 

Bibliografia 

*Colaboração de Jeferson Rodrigo Pestana, engenheiro agrônomo, mestre em fitopatologia especialista em Proteção de Plantas 

EMBRAPA. Árvore do conhecimento: doenças do milho. Disponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. Série histórica de safras: maio 2020. Brasília: CONAB, 2020. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras?start=20>. Acesso em: 09 maio 2020. 

Como você faz o manejo das doenças do milho na sua área? Ficou alguma dúvida ou tem sugestões? Deixa seu comentário abaixo! 

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