Estresse hídrico: entenda seus efeitos na planta do milho, quais os estágios mais críticos e como manejar para minimizar os prejuízos.
O estresse hídrico afeta diretamente as culturas agrícolas. Com o milho não é diferente, especialmente nas fases críticas de crescimento e desenvolvimento, a produção é extremamente reduzida se faltar água.
Por isso, entender como o estresse hídrico afeta a planta de milho e o que podemos fazer para minimizar os prejuízos pode ser crucial para uma boa safra.
Reunimos neste artigo as principais práticas de manejo que otimizam o uso de recursos hídricos e outras dicas. Confira!
O que é estresse hídrico?
Estresse hídrico em plantas é um termo utilizado para designar uma situação em que a demanda de água pela planta é maior que a disponibilidade no solo e capacidade de absorção pelo sistema radicular.
Esse é o fator que mais frequentemente limita a obtenção de altas produtividades da cultura de milho no Brasil.
Quais são os efeitos da falta de água na cultura do milho?
Os efeitos da estiagem sobre a produtividade no milho dependem da intensidade do déficit hídrico, da sua duração, da época de ocorrência dentro do ciclo da cultura e da interação com outros fatores de manejo. Veja um exemplo de evapotranspiração na cultura do milho abaixo:
O conhecimento dos períodos de máxima sensibilidade ao fator água durante o ciclo de desenvolvimento da cultura do milho, bem como das respostas das plantas à disponibilidade hídrica no solo, é importante, pois possibilita a adoção de práticas de manejo que otimizem o uso de recursos hídricos.
É exatamente isso que veremos a seguir.
Efeitos do estresse hídrico na emergência do milho
O período de germinação/emergência das sementes é um dos mais importantes para definir o potencial produtivo de uma lavoura de milho.
Para obter altas produtividades, é necessário germinação/emergência uniforme, a fim de se obter todas as plantas emergidas no mesmo momento, sem haver plantas dominadas.
Nessa fase, a necessidade hídrica é baixa, variando de 1,5 a 3 mm por dia, pois ainda não existe área foliar. A deficiência hídrica neste período dificulta a absorção de água pela semente, a qual é fundamental para início do processo de germinação.
Assim, estiagem neste período reduz o número de plantas emergidas e torna a emergência mais lenta e desuniformidade.
Efeitos do estresse hídrico nos estágios iniciais do milho
O período compreendido entre os estádios de desenvolvimento V1 e V5 (uma a cinco folhas totalmente expandidas) é caracterizado por baixa necessidade hídrica da cultura, pois ainda possui pouca área foliar.
Esse requerimento hídrico é de 2,5 a 4,5 mm por dia, de acordo com o incremento da área foliar.
A estiagem na fase vegetativa reduz a velocidade de crescimento inicial, diminuindo número de folhas diferenciadas e aumenta o período crítico de competição com plantas daninhas.
Além disso, ela favorece o ataque de pragas de solo, como lagarta rosca e elasmo, que podem reduzir o estande da lavoura.
Efeitos do estresse hídrico de V6 a VT no milho
A partir do período de V6 (seis folhas expandidas) a VT (florescimento), o requerimento hídrico do milho fica maior, de 4,5 para 7mm por dia, conforme o aumento de sua área foliar.
Nesse período a planta estará definindo o tamanho potencial da espiga (diferencia número de fileiras e número de óvulos por fileira na espiga), expandindo entrenós e área foliar
A falta de água nesse momento acaba prejudicando o tamanho potencial da espiga. Outros pontos afetados pelo estresse hídrico nesse período são a área foliar e estatura da planta, ocasionando plantas de menor área foliar e menor estatura.
Efeitos do estresse hídrico no pendoamento-espigamento
O período de pendoamento-espigamento é o de maior sensibilidade da cultura do milho à deficiência hídrica. O requerimento hídrico do milho nesse período gira em torno de 7 e 8 mm por dia.
Em condição de falta de umidade e alta temperatura, há aumento da defasagem entre os florescimentos masculino e feminino, fazendo com que os grãos de pólen (parte masculina) sejam liberados e não encontrem estilo-estigmas (parte feminina) receptivos, reduzindo o número de óvulos fertilizados e de grãos produzidos por espiga, diminuindo drasticamente o rendimento de grãos, conforme mostra tabela abaixo:
Redução no rendimento de grãos de milho, em função da falta de água em diferentes estádios de desenvolvimento durante um período de sete dias.
Efeitos do estresse hídrico no enchimento de grãos de milho
Após o pendoamento-espigamento, ocorre o período de enchimento de grãos na cultura do milho.
É importante um bom regime hídrico no período para que o enchimento de grãos ocorra de forma eficiente.
Falta de água neste período ocasiona senescência foliar mais rápida, menor atividade fotossintética da planta e consequentemente espigas com grãos mais leves.
O requerimento hídrico neste período inicia com aproximadamente 8 mm dia, decrescendo conforme a senescência foliar (a evapotranspiração diminui gradativamente) até a maturação fisiológica da planta.
Veja abaixo fotos de áreas que sofreram estresse hídrico, sendo possível notar seu efeito em diferentes estádios:
Práticas para minimizar os efeitos do estresse hídrico em milho
Entre as principais estratégias para minimizar os efeitos do estresse hídrico na cultura do milho, podem-se destacar duas, que são chamadas de escape e enfrentamento.
A estratégia chamada de escape, consiste em plantar a lavoura de milho em uma determinada época a fim de não coincidir o período crítico a estresse hídrico (período de pendoamento-espigamento) com o período em que tende a ocorrer historicamente estiagem ou baixa disponibilidade hídrica no local de plantio.
Nesse ponto é necessário plantar um híbrido de ciclo mais precoce, pois são materiais que florescem mais rapidamente, e podem escapar com maior facilidade desses períodos de déficit hídrico.
Entretanto, se o período de estiagem ocorre mais cedo, esses híbridos podem sofrer muito com a falta de água.
A estratégia chamada de enfrentamento, é a escolha de um híbrido que consegue passar pelo período de estresse hídrico sofrendo o mínimo possível.
Existem alguns mecanismos fisiológicos na planta que permitem tolerar a baixa disponibilidade hídrica e/ou promover maior eficiência no uso da água pela planta.
Entre esses mecanismos está enrolamento foliar, abscisão floral, alteração da permeabilidade da cutícula, aumento da capacidade fotossintética, alteração na condutância estomática, entre outros aspectos morfofisiológicos.
Ainda há outras estratégias de manejo da lavoura são importantes para minimizar os efeitos do estresse hídrico na lavoura de milho.
Um ponto importante é o manejo do solo. Solo descompactado, corrigido, com boa fertilidade e adubação favorece o desenvolvimento radicular das plantas.
Um sistema radicular profundo e com maior volume de raízes consegue tolerar melhor o período de estresse hídrico, pois explora um maior e mais profundo perfil de solo.
Portanto, é muito importante o produtor de milho estar atento ao clima para a implantação da lavoura, escolher um híbrido com as melhores características para seu sistema produtivo e ter cuidados no manejo do solo e adubação.
Assim possibilita condições da cultura minimizar efeitos de uma eventual deficiência hídrica ao longo de seu ciclo.
Conclusão
Aqui percebemos que é importante conhecer os requerimentos hídricos em todos os períodos de desenvolvimento da cultura do milho e quais os efeitos de um eventual déficit hídrico em cada um desses períodos.
Essas informações são de fundamental relevância, desde no planejamento da safra (escolha do híbrido, manejo do solo e adubação) até em ações a serem tomadas e quais poderão ser os prejuízos na produtividade caso haja período de estiagem ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura.
Bibliografia
*Colaboração de Murilo Durli, Engenheiro Agrônomo (Unoesc), Mestre e Doutor em Produção Vegetal (Udesc).
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SANGOI L., et al. Ecofisiologia da cultura do milho para altos rendimentos. Lages: Graphel, 2010. 82 p.
Você já conhecia todos esses efeitos do estresse hídrico no milho? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!