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Percevejos do milho: identifique e faça o manejo corretamente

Percevejos do milho: como identificar esses insetos na lavoura de milho e como fazer o melhor manejo para cada um deles.

Enquanto lagartas e outros insetos desfolhadores causam sintomas impactantes e fáceis de visualizar, os percevejos têm prejudicado seriamente as lavouras de soja e milho, mesmo que os ataques não sejam tão visíveis. 

Foi nas últimas safras que os percevejos realmente começaram a ser dor de cabeça de vários produtores em diversas regiões do país. 

A maior parte daqueles que causam problemas nas lavouras são os que perfuram e sugam as plantas, dificultando seu desenvolvimento e produção agrícola. 

Você conhece todos os percevejos que estão na sua lavoura? Sabia que existem diferentes espécies que atacam o milho e que elas são de fácil identificação? Sabe fazer o manejo corretamente para alcançar sua produtividade esperada? 

Neste artigo, vamos falar dos principais percevejos que atacam o milho, como fazer sua correta identificação e manejo. Fique de olho! 

O que são percevejos do milho? 

Muitas vezes pouco notados pelos produtores, esses insetos estão entre as pragas mais difíceis de controlar no sistema produtivo, podendo ser pragas iniciais ou mais tardias, e que ganham maior importância a cada ano. 

Os percevejos são insetos comumente encontrados em diversos locais. Eles pertencem a ordem Hemiptera e a subordem Heteroptera. Existem diversas famílias e espécies desta subordem, as quais variam muito quanto ao hábito alimentar. Podem ser predadores, hematófagos, zoofitófagos ou fitófagos. 

Os percevejos fitófagos são insetos sugadores, que se alimentam introduzindo seu aparelho bucal (estiletes) na fonte nutricional (colmo, vagem ou outra estrutura da planta).  

Após isso, injetam uma saliva aquosa contendo enzimas digestivas que pré-digerem o alimento ocorrendo então a ingestão. Como comentamos, são os que causam os problemas nas lavouras agrícolas. 

Por que percevejos são grandes problemas em cultivos agrícolas? 

Percevejos se adaptaram muito bem ao sistema de cultivo utilizado atualmente, especialmente o plantio direto. Outro fator é que pragas como lagartas, que eram o grande problema no passado, agora são mais facilmente controladas com as tecnologias Bt, fazendo com que a incidência de percevejos aumente.  

Além do mais, esse grupo possui adaptações que os permitem invadir e se estabelecer em cultivos, tais como: 

Sobrevivência no período de entressafra

Podem sobreviver em restos culturais, ficando algum tempo fisiologicamente inativos (processo chamado de oligopausa) até encontrarem hospedeiros 

Alta capacidade de dispersão  

Esses insetos possuem rápida locomoção tanto terrestre quanto por voo. Antes mesmo do final do ciclo da cultura, se dispersam para outros hospedeiros podendo se reproduzir e aumentar sua população. 

São insetos altamente polífagos  

Percevejos possuem diversos hospedeiros como plantas daninhas, onde conseguem se desenvolver. Isso faz com que as populações de uma espécie-praga de percevejo fitófago se propague mais rapidamente.  

Essas são algumas das razões do porquê os percevejos são grandes preocupações e têm sido frequentes, principalmente no milho safrinha, já que estavam anteriormente na soja. 

Principais percevejos-praga que atacam a cultura do milho 

Percevejo-barriga-verde (Dichelops spp.) 

Há duas espécies de percevejos-barriga-verde, Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus. Eles são muito semelhantes na forma geral. No entanto, D. furcatus é maior, com espinhos nos ombros (pronoto) que são da mesma cor do pronoto.  

D. melacanthus é menor e a extremidade dos espinhos é mais escura do que o restante do pronoto. Além disso, a distribuição das duas espécies é diferente como mostra o mapa abaixo. 

 Diferentes espécies de percevejo-barriga-verde Dichelops furcatus (A) e Dichelops melacanthus (B).  
Fonte: Lisonéia Fiorentini Smaniotto/Embrapa.


Distribuição de Dichelops melacanthus (esquerda) e Dichelops furcatus (direita).  
Fonte: Adaptado de Panizzi, 2015. 

A visualização desses insetos no campo, principalmente em lavouras com plantio direto, pode ser um pouco dificultada visto que essa espécie tem a parte de cima do corpo amarronzada e tem o hábito de permanecerem na palhada. 

Dichelops melacanthus é a espécie que tem causado maiores danos na cultura do milho, logo após a emergência da plântula até os estágios V5 e V6, principalmente em cultivos de safrinha pós-soja.  

Nesse período fica mais fácil de visualizar essa praga na planta, porém é um período crítico para cultura. 

Danos causados pelos percevejos do milho 

O maior potencial de dano dos percevejos ocorre em ataques entre V1 e V6, sendo que o período dos 25 a 30 dias após a emergência é crucial para o controle.  

Para se alimentar do milho, percevejos barriga-verde perfuram o colmo da planta injetando saliva e toxinas. A perfuração nesta fase de desenvolvimento danifica o sistema de crescimento da planta.  

Esses danos dão origem aos sintomas como, por exemplo, furos assimétricos no limbo foliar, folhas murchas, folhas centrais retorcidas (“encharutamento”), plantas deformadas, amareladas e dominadas. Isso compromete o desenvolvimento adequado refletindo em queda de produtividade. 

Esses percevejos ainda podem causar um sintoma chamado “coração morto”, que é a morte da planta causada por ataques severos nos estágios iniciais. Isso ocorre porque o percevejo destrói o sistema de crescimento da planta. Nesse cenário, há redução significativa do estande e, em alguns casos, é necessário que se faça o replantio da cultura. 

Apesar de maiores problemas ocorrerem até V6, o monitoramento deve ser mantido uma vez que poderá haver infestação da praga em estágios mais tardios.  

Percevejo marrom, Euschistus heros 

O percevejo marrom pode ser facilmente confundido no campo com o percevejo barriga-verde que vimos acima, isto porque a parte dorsal também tem coloração amarronzada.  

A diferença é que seu abdome tem coloração marrom com uma mancha branca em formato de meia-lua no dorso, acima da parte membranosa das asas.  

Além disso, sua cabeça é mais arredondada, diferente da cabeça mais pontiaguda do percevejo barriga-verde. 

Ciclo do percevejo marrom, com duração do ovo até início do período reprodutivo cerca de 46 dias 
Fonte: IRAC 

O percevejo marrom causa maiores danos na cultura da soja, mas, se não for controlado de maneira adequada, poderá atacar também a cultura do milho, especialmente quando em sucessão com a soja. 

Esse inseto causa problemas, principalmente, em lavouras de milho plantadas mais cedo (até meados de fevereiro) período em que está bastante ativo. 

Tem o hábito de atacar a planta do milho de maneira gregária, ou seja, vários insetos se alimentam da mesma planta.  

Como seu estilete, que é o aparelho bucal, é mais curto do que o estilete do percevejo barriga-verde, ele tem menor chance de atingir o ponto de crescimento da planta causando o sintoma de coração morto.  

Porém, um grande problema para seu controle é que ele normalmente tem maior tamanho, sendo necessária maior quantidade de ingestão do inseticida do tratamento de sementes para se intoxicar. 

Como a planta é atacada por vários insetos ao mesmo tempo, ela poderá ter seu potencial produtivo comprometido.  

Além do mais, o percevejo-marrom tem grande potencial reprodutivo, sendo considerada a espécie de percevejo de maior abundância no nosso sistema de cultivo soja-milho. 

As medidas de controle do percevejo-marrom seguem as mesmas premissas para o controle do percevejo barriga-verde. 

Percevejo-gaúcho ou percevejo-cowboy (Leptoglossus zonatus) 

A espécie Leptoglossus zonatus, conhecida como percevejo-gaúcho ou percevejo-cowboy, é outra espécie de percevejo que ataca a cultura do milho.

Possui menor importância, porém se não for controlado pode causar redução de peso de sementes, afetar o vigor e o poder germinativo. Além do milho, pode atacar também o sorgo, soja, feijão, tomate e citros. 

É um percevejo bem maior do que as outras espécies que vimos acima, chegando a medir em média 20 mm. Apresenta coloração marrom escuro com duas manchas circulares no protórax. 

As fêmeas são maiores que os machos e põem os ovos enfileirados e aderidos ao substrato vegetal. Após a eclosão das ninfas demora em média 30 dias até se tornarem adultos. 

Adulto do percevejo-gaúcho 
Ninfas do percevejo-gaúcho 
Fonte: Eden Fontes 

Tanto as ninfas como os adultos desses insetos alimentam-se principalmente dos grãos em enchimento deixando-os manchados e com tamanho reduzido, ocasionando redução na produtividade.  

Além do mais, pode também estar associado a doenças da espiga como Fusarium, Penicillium e Cephalosporium spp.

Como seu ataque ocorre quando as plantas já estão grandes, a entrada do trator na lavoura fica difícil impossibilitando a aplicação terrestre.  

Com isso, outros métodos devem ser utilizados como a irrigação ou pulverizações aéreas, o que pode aumentar os custos da lavoura. Inseticidas fosforados apresentam boa eficiência. 

Principais dicas para o manejo de percevejos do milho 

Antes do milho 

Percevejos podem se estabelecer em culturas anteriores como soja e feijão, permanecer na palhada e migrar para o milho. Dessa forma, o monitoramento nas culturas anteriores, assim como o controle, se necessário, é justificado e recomendado antes mesmo da instalação do milho. 

Além disso, antes da implantação da cultura é recomendado fazer o monitoramento. Se o nível de controle (NC) for atingido, recomenda-se utilização de inseticidas na dessecação prévia ao milho. 

Na semeadura 

O tratamento de sementes eficiente como o TSI (Tratamento de Sementes Industrial) é uma ferramenta de extrema importância. Esse tratamento vai garantir proteção inicial das plântulas no seu período crítico de desenvolvimento. 

No tratamento de sementes, é importante observar a utilização de inseticidas sistêmicos, que tenham a translocação para parte aérea realizada de forma eficaz.  

Neonicotinoides, como a clotianidina, são inseticidas bastante utilizados e com enorme eficácia no controle do percevejo barriga-verde como mostra o gráfico abaixo.  

 Fonte: Fernandes et al., 2019

Depois da lavoura estabelecida 

Mesmo com um tratamento de sementes adequado, existem alguns casos onde há intensa pressão de seleção do inseticida utilizado, e esse tratamento pode não ser suficiente. Dessa forma, deve-se manter monitoramento após emergência das plantas. 

A amostragem deve ser feita avaliando número de insetos vivos a cada 10 metros lineares, de forma aleatória na lavoura. Além disso, o monitoramento deve ser realizado, no mínimo, uma vez a cada 7 dias. Em caso de alta infestação sugere-se aumentar essa frequência. 

Em estágios iniciais, V1 a V3, há definição de todas as folhas e da espiga que a planta de milho irá produzir. Neste caso, o nível de controle (NC) para o percevejo barriga-verde é 0,8 percevejo/m².  

Estágios posteriores ao período crítico para a cultura (após V6), o NC pode chegar a 2 insetos/m2.  

Caso detectada a praga em NC, aplicações de inseticidas complementares na parte aérea serão necessárias. A estratégia mais eficiente para este tipo de controle tem sido a utilização de neonicotinóides + piretróides até 3 DAE (Dias Após Emergência). 

Para maximizar as chances de controle durante a pulverização foliar, a aplicação deve ser realizada nos períodos de maior atividade e exposição desses insetos (10 às 13h e 16 às 19h). 

Em casos extremos, a ressemeadura é indicada nas situações de morte de plantas e pelo menos 60% das plantas com notas 3 ou 4, associada a clima desfavorável. 

Potencial de dano por sintomas de ataque de percevejo em milho. Nota 0: plantas sem sintomas de ataque; Nota 1: plantas com sintomas de pontuações nas folhas e sem redução de altura; Nota 2: plantas com sintomas de ataque e redução no crescimento; Nota 3: planta com sintoma de ataque e perfilhamento; Nota 4: planta com sintoma de ataque, encharutamento e morte da haste principal 

Fonte: Rodolfo Bianco (IAPAR). 

É importante ressaltar que é preciso integrar diferentes manejos e fazer sempre o monitoramento desse inseto, possibilitando o Manejo Integrado de Pragas, o qual entrega inúmeros benefícios, especialmente no controle eficaz das pragas. 

Veja mais sobre o manejo de pragas no milho e sorgo nos nossos artigos: 

Conclusão 

O manejo de percevejos do milho requer atenção especial do agricultor, principalmente em datas próximas ao plantio. 

O ataque dessas pragas pode colocar em xeque todo um planejamento e um ano agrícola. E, em casos críticos de ataque, é necessário o replantio. 

Devido à pouca oferta de ingredientes ativos eficazes, existem poucas opções de controle com diferentes mecanismos de ação. Dessa forma, boas práticas de manejo cultural são muito importantes e devem ser realizadas a todo momento. 

Referências 

*Colaboração de: 

Hígor de Souza Rodrigues, Consultor de Desenvolvimento de Mercado, Helix Sementes; Mestre em Entomologia – Universidade Federal de Viçosa; Engenheiro Agrônomo – Universidade Federal do Espírito Santo 

André Junio Andrade Peres, Consultor de Desenvolvimento de Mercado, Helix Sementes; Mestre em Agronomia (Agricultura) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; Engenheiro Agrônomo – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul 

CRUZ, I. Insetos-praga do milho e seus inimigos naturais. Panorama fitossanitário da cultura do milho, EMBRAPA Milho e Sorgo, 2020. Disponível em: http://panorama.cnpms.embrapa.br/insetos-praga 

DUARTE, M. M, ÁVILA, C. J., SANTOS, V. Danos e nível de dano econômico do percevejo barriga verde na cultura do milho. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.14, n.3, p. 291-299, 2015. 

PANIZZI, A.R. Growing problems with stink bugs (Hemiptera: Heteroptera: Pentatomidae) species invasive to the U.S. and potential Neotropical invaders. American Entomology, v. 61, p. 223–233, 2015. 

FERNANDES, P. H. R., ÁVILA, C. J., SILVA, I. F. Controle do percevejo Dichelops melacanthus por meio de inseticidas aplicados nas sementes de milho. EMBRAPA, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 2019. 

Você saberia reconhecer esses diferentes percevejos do milho? Ficou com alguma dúvida ou tem sugestões? Deixe seu comentário abaixo! 

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