InícioManejo FitossanitárioTecnologia de aplicação de fitossanitários: como fazer aplicações com resultados ainda melhores

Tecnologia de aplicação de fitossanitários: como fazer aplicações com resultados ainda melhores

Tecnologia de aplicação: entenda melhor sobre volume de calda, tamanho de gotas, pontas de pulverização e outras dicas para garantir a eficiência das aplicações. 

As perdas causadas por agentes nocivos continuam sendo o principal contraste no aumento da produção e da produtividade de alimentos no mundo.  

A tecnologia de aplicação nada mais é que colocar o produto no alvo, de forma eficiente, econômica, em quantidade necessária e com a mínima contaminação do meio ambiente, o que é fundamental para um bom manejo fitossanitário. 

E no que se refere à proteção de plantas, os detalhes fazem bastante diferença, principalmente no processo da aplicação, em que as situações do campo são as mais variadas e complexas. 

Por isso reunimos aqui as principais dicas e conceitos sobre tecnologia de aplicação para obter resultados ainda melhores. Confira! 

O que é tecnologia de aplicação e qual sua importância 

Desde o princípio em que o homem passou a praticar a agricultura, a produtividade das culturas é ameaçada e reduzida pela ação de diversos organismos, como fungos, ácaros, insetos e plantas daninhas. 

Estima-se, por exemplo, que plantas daninhas tem o potencial de reduzir em 13% a produtividade das culturas, as doenças também com potencial de 13% e as pragas 16%. Somando a ação de todos esses agentes nocivos, as perdas econômicas podem ser altamente expressivas. 

Tendo isso em vista, já temos a noção da importância da tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários. 

Pode-se conceituar a tecnologia de aplicação como o conjunto de conhecimentos que proporcionam a colocação de produto biologicamente ativo no alvo, de forma eficiente, econômica, em quantidade necessária e com a mínima contaminação do meio ambiente (Matuo, 1990). 

Quando ao método de supressão do agente nocivo à produção agrícola é o controle químico, é necessário conhecer os seguintes aspectos: 

  • Relacionado ao alvo biológico (quer seja um fungo, nematoide, ácaro, inseto ou planta daninha), como sua biologia, comportamento e estádio de maior suscetibilidade à molécula química; 
  • Relacionado ao produto químico, como a dose, formulação e demais informações; 
  • Relacionado à técnica, que garanta ao processo de aplicação do produto químico alta eficiência, economia e principalmente segurança ao aplicador e ao meio ambiente. 

Com tudo isso em mente, vamos aqui discutir mais sobre a técnica, ou seja, como fazer a melhor aplicação dos produtos, obtendo os melhores resultados. 

Como garantir a eficiência da aplicação de produtos fitossanitários? 

A garantia da eficiência do processo de aplicação pode ser entendida, de maneira teórica, pela relação percentual entre dose teórica requerida e dose real empregada.  

De maneira prática, esta eficiência acontece quando se utiliza a quantidade mínima de um produto fitossanitário, proporcionando o controle eficaz do agente nocivo. 

A quantidade empregada em uma aplicação é expressa pela cobertura foliar por um volume líquido. Esta cobertura pode ser melhor entendida e empregada analisando a seguinte equação: 

Onde: 

C = cobertura (% da área); 
V = volume de aplicação (L/ha); 
R = taxa de recuperação (% do volume aplicado, captado pelo alvo); 
K = fator de espalhamento das gotas; 
A = superfície vegetal existente no hectare; 
D = diâmetro das gotas (µm). 

Analisando esta equação, observamos que à medida que a planta cresce e aumenta o índice de cobertura vegetal da área, é necessário adequar os outros fatores, normalmente ajustando o volume ou taxa de aplicação. 

Lembrando que a otimização da aplicação, muitas vezes, também envolve a diminuição do volume de calda. 

Tecnologia de aplicação: volume de calda e tamanho de gotas 

Para diminuir o volume de calda, mas ainda proporcionar a cobertura foliar desejada, normalmente reduzimos o tamanho das gotas.  

Porém, é necessário observar que, a partir de um mesmo volume de calda, cada vez que se diminui o diâmetro das gotas em 50%, o número de gotas é multiplicado por oito e a área coberta sobre o alvo é duplicado, sendo o contrário também verdadeiro. 

Dessa maneira, estabelecemos os limites de tamanho das gotas e do número mínimo de gotas por unidade de área do alvo biológico (para cada classe de produto fitossanitário), conforme vemos na figura abaixo: 

Lembrando que entende-se por tamanho de gota o diâmetro da gota que divide o volume pulverizado em duas partes iguais, sendo denominado de Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV). 


Fonte:A Granja

Existe uma classificação de tamanho de gotas conforme normas internacionais, como o Conselho Britânico de Proteção de Culturas (BCPC) e a Associação Americana de Engenharia Agrícola (ASAE) que estabeleceram limites de tamanho de gotas. 

De acordo com essa classificação, existe o tamanho de gotas recomendado, bem como a quantidade de gotas necessária para conseguir uma cobertura adequada para cada tipo de aplicação e alvo biológico. 

Fonte: ANDAV

Cuidados com a redução de volume de calda 

Atualmente, procura-se aplicar volumes ou taxas de aplicação cada vez menores diminuindo o uso de água, que é o principal diluente dos produtos formulados, bem como reduzir o tempo e os custos da aplicação.  

Porém, o uso de menores volumes de aplicação e consequentemente reduzindo o tamanho das gotas para manter o nível de cobertura ideal, aumenta o risco de deriva, exigindo maiores cuidados. 

Entende-se por deriva como sendo o movimento físico das gotas pulverizadas através do ar, no momento da aplicação ou logo após, para longe do alvo (cultura, planta, área). São vários os fatores que influenciam a deriva e que você deve estar atento: 

  • Fatores climáticos: movimento do ar (direção e velocidade); temperatura e umidade do ar; estabilidade atmosférica (inversão térmica); 
  • Equipamentos de aplicação: tipo de ponta ou bico, orientação do bico, distância do alvo, velocidade de deslocamento da máquina aplicadora, altura da barra e pressão de trabalho; 
  • Características da pulverização: tamanho de gota, formulação química do produto fitossanitário e adjuvantes. 

O papel fundamental das pontas de pulverização na tecnologia de aplicação 

Em todo este contexto de formação de gotas e diminuição do risco de deriva, as pontas de pulverização exercem papel primordial, que abordaremos melhor a seguir. 

Todos os componentes de uma máquina aplicadora são essenciais, porém, as pontas são as partes mais importantes de um pulverizador, uma vez que é delas que depende a vazão da barra e consequentemente a taxa de aplicação, bem como o tamanho das gotas formadas e a sua distribuição sobre o alvo da pulverização. 

Existem no mercado vários tipos de pontas, sendo classificadas como: 

  • Pontas de jato leque (também chamadas de padrão uniforme ou padrão normal); 
  • Pontas de impacto; 
  • Pontas de jatos planos duplos; 
  • Jato cônico vazio; 
  • Jato cônico cheio; 
  • Pontas de deriva reduzida com pré-câmara;  Pontas de deriva reduzida com indução de ar

De acordo com o tamanho de gotas produzidas e pelo potencial do risco de deriva (PRD), as pontas de pulverização são classificadas por cores. 

Fonte: Souza e Palladini, 2007

Como selecionar as pontas de pulverização 

Tendo em mãos estas informações, deve-se observar critérios para uma adequada seleção de pontas de pulverização, levando em consideração: 

  • Condições ambientais no momento da aplicação; 
  • Classe de produto fitossanitário em termos de tamanho de gota; 
  • Densidade de cobertura; 
  • Potencial do risco de deriva; 
  • Uniformidade de distribuição das gotas; 
  • Volume de calda pulverizado; 
  • Características do alvo. 

Além do mais, deve-se atentar para o desgaste das pontas e consequentemente, o momento de comprar pontas novas, pois pontas desgastadas irão causar má distribuição do volume pulverizado diminuindo a eficiência da aplicação.  

Para isto, é importante saber a vida útil de cada material de que é feito uma ponta. Pontas de cerâmica são as que apresentam maior durabilidade, conseguindo mais de 400 horas de vida útil, pontas de termoplástico e de aço inoxidável com até 400 horas, pontas de nylon até 200 horas e as pontas de latão com menor durabilidade com até 100 horas. 

Uso de adjuvantes agrícolas e tecnologia de aplicação 

O uso de adjuvantes em mistura a produtos fitossanitários também exerce importante papel para garantir eficiência e qualidade em uma pulverização. 

Adjuvante agrícola é qualquer substância que, adicionada durante o processo de formulação do produto fitossanitário (momento da fabricação) ou no preparo da calda no campo (produto formulado + adjuvante) facilita a aplicação, reduz perdas e riscos durante o processo, além de melhorar o desempenho do agente químico de controle.  

Em síntese, o adjuvante irá minimizar a perda e maximizar o efeito, através da melhora na cobertura vegetal, na penetração e absorção dos produtos fitossanitários na planta. 

Existe vários tipos de adjuvantes no mercado: 

  • Surfactantes: facilitam ou aumentam a absorção, dispersão, espalhamento e molhamento; 
  • Óleos emulsionáveis (vegetal ou mineral): função de molhamento, espalhamento, penetração, antievaporação e adesividade; 
  • Agentes acidificantes e de tampão: proporciona resistência da calda a mudança de pH; 
  • Agentes de compatibilidade, permitindo misturas de tanque; 
  • Desespumantes e antiespumantes, que eliminam ou suprimem a espuma. 

É necessário atenção para evitar uso inadequado de adjuvantes, principalmente devido à sua interação com os ingredientes ativos dos produtos fitossanitários, sendo necessário acompanhamento profissional especializado. 

Regulagem do pulverizador 

Os pulverizadores agrícolas são equipamentos que devem estar sempre em boas condições de uso, uma vez que o uso de pulverizadores mal regulados, com pontas de pulverização inadequados ou desgastados podem resultar na ineficiência das aplicações, além da contaminação do meio ambiente. 

Diante disso, para evitar tais problemas é preciso sempre fazer de maneira periódica, uma adequada revisão, manutenção e calibração destes equipamentos durante o período da sua utilização.  

Para isto, segue uma lista dos parâmetros que devem ser avaliados nesta revisão periódica: 

  • Estado e localização das mangueiras; 
  • Proteção de partes móveis; 
  • Vazamentos; 
  • Funcionamento do manômetro; 
  • Espaçamento entre bicos/pontas; 
  • Filtro de linha; 
  • Filtro de sucção; 
  • Antigotejadores; 
  • Pontas; 
  • Calibração; 
  • Tempo de uso das pontas; 
  • Média do volume de calda pretendido e média do volume de calda real. 

Tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários na cultura do milho 

Tecnologia de aplicação para plantas daninhas 

A escolha da tecnologia de aplicação a ser empregada no controle de plantas daninhas depende de vários fatores: 

  • Alvo a ser atingido (solo ou a planta daninha); 
  • Estádio de desenvolvimento da planta daninha e a condição fisiológica que ela se encontra; 
  • Condições ambientais no momento da aplicação (temperatura não maior que 30º C, umidade relativa do ar maior que 50% e velocidade do vento entre 3 e 10 km/h); 
  • Relacionado ao herbicida (qual o local da planta daninha que deve ser atingido para conferir maior facilidade de absorção e mobilidade dentro da planta daninha). 

O volume de aplicação pode variar dependendo da situação, sendo difícil padronizar um volume ideal pois vários fatores estão envolvidos nesta escolha, como as condições climáticas no momento da aplicação, a planta daninha alvo da aplicação, mobilidade e dose do herbicida, entre outros.  

Independente do volume de aplicação escolhido, o tamanho de gotas segue a recomendação para todo tipo de aplicação, ou seja, utilizar gotas mais finas quando tem a necessidade de melhor cobertura do alvo. 

Nesse sentido da utilização de gotas mais finas, não podemos esquecer que gotas menores tem maiores riscos de deriva, e no caso os herbicidas podem ocasionar sérios problemas de fitotoxicidade de lavouras vizinhas ou contaminação do ambiente.  

Em geral, podemos seguir a regra de aplicar a quantidade entre 20 a 30 gotas/cm2 quando a aplicação é de pré-emergente e 30 a 40 gotas/cm2 quando for pós-emergente. 

Tecnologia de aplicação para pragas 

Quando o assunto é controle de lagartas, apesar da utilização de variedades transgênicas que conferem resistência a este grupo de insetos, nota-se que as perdas provocadas por lagartas, principalmente a Spodoptera frugiperda, ainda constituem fator limitante para atingir altas produtividades.  

Devido ao hábito desta praga de se alojar no interior do cartucho do milho, sendo este um local de difícil acesso para as gotas de pulverização, ainda existe grandes desafios para a tecnologia de aplicação.  

Por isso, deve-se utilizar uma tecnologia que produza um tamanho de gotas adequado (gotas de 250 µm de tamanho promovem bom controle para insetos), com o volume de aplicação ajustado para a situação do campo, além de garantir uma alta deposição das gotas, principalmente na parte superior do dossel da cultura. 

Além disso, vários trabalhos de pesquisa demonstram a eficiência das técnicas de aplicação. Por exemplo, no que diz respeito ao volume de aplicação, maiores taxas de aplicação tem a capacidade de aumentar a quantidade de ingrediente ativo no alvo, no caso da lagarta-do-cartucho o alvo é o cartucho da planta, porém somente até certo ponto, evitando o escorrimento e perdas para o solo.  

Por outro lado, desde que evite a deriva, menores taxas de aplicação podem aumentar a cobertura do alvo e consequentemente a eficácia dos produtos, além de diminuir os custos da aplicação pelo aumento da capacidade operacional do pulverizador.  

Um exemplo para conseguir uma aplicação com menor volume e diminuir o risco de deriva, seria o uso de ponta de jato plano com indução de ar. Com este tipo de ponta pode-se conseguir gotas de tamanho adequado e aumento da segurança ambiental. 

Tecnologia de aplicação para doenças 

Aqui podemos enfatizar que o tamanho de gotas e o volume de aplicação são os fatores que devem ser primeiros observados na aplicação de fungicidas. Demais fatores como o momento da aplicação, condições climáticas e o fungicida aplicado são complementos que devem ser ajustados para alcançar máximo de eficiência. 

De maneira prática, pode-se utilizar gotas maiores para fungicidas com maior ação sistêmica, conferindo maior segurança ambiental com diminuição da deriva e consequentemente maior eficiência., apesar de não promoverem as melhores coberturas.  

Já quando se utiliza fungicidas com menor ação sistêmica, é necessário maior volume de aplicação e produção de gotas menores, garantindo assim maior cobertura do alvo. 

Conclusão 

Com uma agricultura cada vez mais eficiente e profissionalizada, o sucesso da atividade é alcançado por meio de detalhes em todos os processos produtivos.  

A tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários garante sucesso através de conhecimentos específicos do alvo a ser controlado, do produto químico a ser aplicado, além do volume de aplicação ideal. 

Esses fatores, juntamente com a precisão e capricho na regulagem e calibração do pulverizador, fazem com que a atividade agrícola passe a ser mais sustentável, com menor custo econômico e menor risco de contaminação ambiental. 

Bibliografia 

*Colaboração de:   

André Junior Andrade Peres, Consultor de Desenvolvimento de Mercado, Helix Sementes; Mestre em Agronomia (Agricultura) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; Engenheiro Agrônomo – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul 

AZEVEDO, Luís Antônio Siqueira. Adjuvantes Agrícolas para a Proteção de Plantas. 1ª ed., Rio de Janeiro: IMOS Gráfica e Editora, 2011, 264 p. 

BBC-NEWS (2009). Averting a perfect storm of shortages. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/8213884.stm> Acesso em: 27 de março de 2021. 

MATUO, Tomomassa. Técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. Jaboticabal, Funep, 1990. 139 p. 

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

EVENTOS PARCEIROS

Mais Lidas