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Nematoides no Milho: Inimigos ocultos que comprometem a lavoura

Nematoides do milho: Saiba quais são, os danos que causam e como controlá-los para uma colheita rentável.

O milho (Zea mays L.) é uma das culturas agrícolas mais importantes no Brasil. De acordo com o levantamento da CONAB (2024), a safra 2023/2024 registrou uma produção de 115,72 milhões de toneladas de grãos. Apesar dos avanços significativos, como o desenvolvimento de híbridos mais produtivos e adaptados, a adoção de técnicas de agricultura de precisão e a melhoria da fertilidade do solo, ainda persistem desafios. Entre eles, destacam-se os fitonematoides, que impactam negativamente a produtividade de grãos e elevam substancialmente os custos de produção (Chiamulera et al., 2012).

Os fitonematoides são vermes microscópicos, cilíndricos, e não segmentados. Possuem na sua estrutura encefálica um alfinete que é utilizado para perfurar as células das plantas e se alimentar de seu conteúdo. Como parasitas obrigatórios, dependem inteiramente de um hospedeiro vivo para completar seu ciclo de vida. Na ausência de hospedeiro podem entrar em dormência, o que torna ainda mais complexo seu controle.

No ano de 2022 em um levantamento abrangente realizado em todo o Brasil revelou a presença de nematoide em cerca de 91% das mais de 22 mil amostras analisadas (Syngenta, 2022). Na cultura do milho foi detectada a presença desses parasitas em 1000 amostras do total de 1370 analisadas.  A projeção de perda de 0,9 safras nos próximos 10 anos, com um prejuízo estimado em 110,3 bilhões de reais apenas no milho, evidencia a urgência de implementar medidas eficazes de manejo para o controle desses organismos e garantir a sustentabilidade da produção.

Principais nematoides no milho

Nematoide das galhas (Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica)

O nematoide das galhas (Meloidogyne spp.) é um parasita que afeta não apenas o milho, mas diversas outras culturas agrícolas, o que torna seu controle particularmente desafiador. Seu ciclo de vida passa por várias fases, começando com a eclosão dos ovos e a liberação dos juvenis de segundo estádio (J2), que são móveis e capazes de infectar as plantas. Ao penetrar nas raízes, esses juvenis começam a se alimentar e a liberar toxinas que induzem a formação de galhas, deformações nas raízes que prejudicam o desenvolvimento da planta. Na soja, esses sintomas são facilmente perceptíveis, enquanto no milho tendem a ser menos evidentes.

Após se desenvolverem e atingir a fase adulta, as fêmeas tornam-se sedentárias. Estima-se que uma única fêmea pode produzir até 312.500 ovos em 75 dias. Por isso, é crucial que o controle desse nematoide seja direcionado para os ovos ou para o estágio juvenil de segundo estádio (J2), já que, após a penetração na planta, o controle torna-se muito mais difícil.

Nematoide das Lesões (Pratylenchus brachyrus e zea)

O Pratylenchus spp é um nematoide endoparasita migrador. O Pratylenchus zea ocorre com mais frequência em sistemas de cultivos com outras gramíneas, já o P. brachyurus está presente quando o milho é cultivado em sucessão com soja e algodão, já que esta espécie possui um amplo espectro de hospedeiros. Os nematoides das lesões radiculares podem infectar as plantas em todas as fases de desenvolvimento pós-emergência do ovo, o que torna fundamental priorizar o manejo desde o início do ciclo da cultura

Os danos causados por esses nematoides podem gerar perdas significativas na produtividade do milho, chegando a reduzir até 50% em casos de altas infestações na fase inicial. Os sintomas incluem lesões necróticas nas raízes e redução das radicelas, causados pela alimentação e movimentação dos nematoides dentro da planta. Esses danos comprometem a absorção e translocação de nutrientes, além de predispor as plantas a infecções por outras doenças.

Assim como ocorre com nematoides das galhas, infestações de Pratylenchus podem provocar a formação de reboleiras, com plantas de porte visivelmente menor em comparação com as plantas saudáveis. Em situações de infestações severas, também é comum o aparecimento de clorose nas folhas.

Danos causados pelos nematoides na cultura

Os nematoides podem causar danos expressivos, principalmente ao sistema radicular.  Geralmente, criam lesões nas raízes, lesões das radicelas e formação de áreas necróticas, o que pode comprometer a absorção de água e nutrientes. Consequentemente, plantas com alto nível de ataque possuem crescimento reduzido, clorose nas folhas e um menor desenvolvimento no geral.  Por fim, a presença de nematoides pode ser uma porta de entrada para outros patógenos, como fungos e bactérias, afetando diretamente a viabilidade econômica da cultura.

Os nematoides podem causar danos expressivos, principalmente ao sistema radicular.  Geralmente, criam lesões nas raízes, lesões das radicelas e formação de áreas necróticas, o que pode comprometer a absorção de água e nutrientes. Consequentemente, plantas com alto nível de ataque possuem crescimento reduzido, clorose nas folhas e um menor desenvolvimento no geral.  Por fim, a presença de nematoides pode ser uma porta de entrada para outros patógenos, como fungos e bactérias, afetando diretamente a viabilidade econômica da cultura.

Amostragem

O controle efetivo dos nematoides começa com a identificação correta das espécies presentes na área. Cada tipo de nematoide pode causar diferentes tipos de danos e afetar em diferentes níveis a planta, assim o diagnóstico correto é primordial para adoção de estratégias eficazes de manejo. A identificação dos nematoides são realizadas através de análises laboratoriais de amostras de solo e raízes, o que possibilita conhecera espécie predominante e o nível de infestação.

A coleta deve ser realizada nas bordas das reboleiras, pois no centro dessas áreas as raízes geralmente já estão mortas, e os nematoides, que se alimenta de tecidos vivos, tentem a migrar para regiões com raízes mais saudáveis. Além disso, no centro das reboleiras, a quantidade de nematoides é significativamente menor, o que torna as amostras menos representativas. A coleta deve ser realiza no verão no estádio de florescimento da cultura, na profundidade de 20 cm. Coletar 1 kg de solo com o auxílio de pá.

Durante a coleta, é essencial obter tanto solo quanto raízes, pois há espécies de nematoides que são ectoparasitas e vivem no solo ao redor das raízes. As raízes devem ser coletadas protegidas pelo solo, e o ideal é coletar cerca de 50 gramas de raiz, preferencialmente na linha de plantio, onde se encontra a rizosfera – a região mais ativa em termos biológicos. Deve-se evitar a coleta em períodos de estiagem ou chuvas excessivas, pois essas condições podem alterar a distribuição e a atividade dos nematoides, prejudicando a representatividade das amostras.

Controle dos nematoides no milho

O manejo de nematoides no milho e em outras culturas pode ser feito por meio de várias estratégias, entre elas o controle biológico, químico, cultural e genético.

O controle genético e o manejo cultural são vistos como práticas de redução da população de nematoides, enquanto o controle biológico e químico tem como principal função proteger as plantas, ajudando a minimizar o impacto desses parasitas.

Embora ainda não existam híbridos completamente resistentes aos nematoides, alguns materiais apresentam menores fatores de reprodução, o que pode contribuir para a redução de populações agressivas, dependendo das condições locais.

O controle químico utiliza nematicidas, que são produtos classificados com base no seu mecanismo de ação. Eles formam uma barreira de proteção ao redor das raízes, diminuindo as chances de infecção inicial. No entanto, uma vez que o efeito residual diminui, as plantas ficam novamente expostas, por isso é fundamental que os nematicidas utilizados sejam registrados para a cultura do milho.

Já o manejo cultural inclui práticas como rotação de culturas, uso de plantas antagonistas, controle de tigueras e plantas daninhas, adubação orgânica e uso de sementes sadias. Plantas como Crotalaria spectabilis e Crotalaria breviflora são eficazes no controle de vários nematoides que atacam o milho, desde que se estabeleça um bom stand e massa aérea significativa. O milheto, por exemplo, pode ajudar a reduzir a população de Pratylenchus, mas pode aumentar a de Meloidogyne, exigindo a adoção de controle biológico para equilibrar a situação.

O controle biológico é uma excelente estratégia complementar. Fungos e bactérias atuam parasitando ovos e formas juvenis dos nematoides, com fungos penetrando e consumindo os ovos, enquanto bactérias formam biofilmes ao redor das raízes, dificultando que os nematoides as encontrem e colonizem. Esses microrganismos também podem induzir resistência nas plantas, fortalecendo as raízes e dificultando a penetração dos nematoides. O uso dessas práticas pode fornecer um controle de até 80% dos nematoides, tornando o sistema de rotação milho-soja mais sustentável.

A consorciação de milho com braquiária, por exemplo, melhora a matéria orgânica do solo e pode ser eficaz na redução das populações de nematoides. Mesmo sem o consórcio, a inclusão de agentes biológicos pode promover uma redução significativa desses parasitas.

A adoção integrada desses diversos controles é a chave para minimizar os danos causados por esses parasitas e melhorar a sustentabilidade e rentabilidade das lavouras de milho.

Referências Bibliográficas

*Colaboração Jhonathann Furquin,  Engenheiro Agrônomo (IFRO), Mestre e Doutorando em Agricultura Tropical – UFMT , Coordenador de Serviços Técnicos da Biomatrix.

CHIAMOLERA, F. M. et al., Suscetibilidade de culturas de inverno a Pratylenchus brachyurus e atividade sobre a população do nematoide na cultura do milho. Nematropica,  v.42, p.267-275, 2012.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra brasileira de grãos – v.1, n.1, Brasilía: CONAB, 2024.

Syngenta Brasil. Nematoides – Operação Inimigo Oculto.  Disponível em : < https://portal.syngenta.com.br/nematoides > Acesso em 05 de setembro de 2024.

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