Consórcio milho-brachiaria: como impedir competição com o milho, como fazer manejo adequado e o ajuste de população de plantas, além de outras dicas sobre esse sistema.
O consórcio milho-brachiaria, também conhecido como ILP (Integração Lavoura Pecuária), sistema Santa Fé ou Barreirão, vem crescendo a cada dia.
Isso porque é grande o leque de benefícios que esse sistema, proporcionando o aproveitamento durante o ano todo das terras cultivadas.
Os principais objetivos do consórcio são a produção de forrageira para a entressafra e a palhada em quantidade e qualidade necessária para o Sistema Plantio Direto (SPD).
Mas para tudo isso acontecer precisamos ter um bom entendimento de como plantar o milho consorciado com brachiaria, como fazer o manejo desse sistema e outras questões que fazem com que o sucesso do consórcio ocorra. Aqui vamos discutir todas essas questões, veja a seguir!
Como começou o consórcio milho-brachiaria
Foi em 1990 que começaram os estudos e desenvolvimento de culturas anuais consorciadas com forrageiras perenes no Brasil. Apenas em 2001 foi divulgado o consórcio da cultura de milho com a forrageira Brachiaria.
Esse concórcio foi chamado na época de “Sistema Santa Fé”, já que foi avaliado na Fazenda Santa Fé, no município de Santa Helena de Goiás-GO.
Na ocasião, o sistema envolvia a B. brizantha cv. Marandu com ao objetivo de reformar pastagens degradadas. Depois disso, e com o sucesso das primeiras avaliações, a utilização do consórcio milho-brachiaria se espalhou pelo Brasil.
Além disso, foram denominados diferentes objetivos para cada nome em que é conhecido consórcio milho-brachiaria. Veja o esquema da Embrapa abaixo:
É interessante frisar que a sustentabilidade na agropecuária brasileira está relacionada com a integração de sistemas de produção, integração lavoura pecuária (ILP), integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e agricultura de baixa emissão de carbono (Plano ABC) (GESSI CECCON – Consórcio Milho-Braquiária).
Benefícios do consórcio milho-brachiaria
- Impede volatilização N, lixiviação K, fixação P, acumulando esses nutrientes na sua matéria seca através da grande produção de fitomassa aérea e radicular;
- Ajuda no controle de plantas invasoras por recobrimento, como capim-amargoso, além de diminuir o banco de sementes;
- Melhora a microbiologia e as características físicas do solo para a cultura em sucessão;
- Diminui a incidência de raios solares e a temperatura nas camadas superficiais dos solos;
- Estudos desenvolvidos na Embrapa Arroz e Feijão mostraram uma redução de até 30% da necessidade de água nas áreas de irrigação quando se cultivam espécies graníferas sobre densa palhada de braquiária;
- Alta relação C\N, tendo uma maior permanência da palhada no solo em comparativo às leguminosas de cobertura;
- Evita erosão pelos por escorrimento;
- Com tudo isso, há incrementos de produtividades.
Por que o milho se adapta bem ao sistema de cultivo consorciado com braquiária?
O milho é uma planta ideal para esse tipo de sistema, já que possui crescimento mais rápido que o da braquiária quando essa forrageira está em condições de sombreamento.
O milho também é um ótimo competidor com plantas de menor porte, como é o caso das braquiárias, especialmente por ter maior taxa de acúmulo de massa seca produzida nos estádios iniciais de desenvolvimento.
Assim, ele tem grande capacidade de interceptação da radiação fotossinteticamente ativa ao longo do dossel, reduzindo a quantidade desse recurso para a braquiária, o que reduz seu crescimento.
No entanto, ainda pode haver casos que a forrageira entre em competição com o milho, sendo necessária a utilização de herbicidas.
Para que isso não ocorra precisamos ajustar a população de plantas para cada objetivo e escolher cuidadosamente o híbrido de milho.
Cada híbrido tem características morfológicas diferentes, como altura de planta e conformação das folhas, além da população indicada.
Desse modo, dê preferência à híbridos com alto vigor, boa taxa de crescimento inicial e dossel com rápida sobreposição em relação às plantas em consórcio, reduzindo assim o crescimento inicial das forrageiras.
Quais braquiárias mais recomendadas em consórcio?
As espécies mais utilizadas são as U. brizantha, U. decumbens, e U. ruziziensis. Elas se destacam por produzirem grande quantidade de massa de matéria seca, além de tolerância à deficiência hídrica e apresentar a absorção de nutrientes em camadas mais profundas do solo.
Elas também são de fácil manejo e não formam touceiras. Veja abaixo a imagem das 3 espécies:
Braquiária ruziziensis (U. ruziziensis)
Indicada para pastagens de curto período na entressafra e palhada para o sistema de plantio direto na safra seguinte.
A espécie apresenta baixa competição com o milho, boa cobertura do solo e fácil manejo de dessecação.
Braquiária brizantha (U. brizantha)
Para quem quer formar pastagem para uma ou mais safras, ou longo período de entressafra. Dentre as U. brizantha temos a cv. Marandu, Xaraés e Piatã como as mais utilizadas devido à alta tolerância ao pisoteio dos animais.
Braquiária decumbens (U. decumbens)
É a espécie que teve maior difusão no Brasil. Essa braquiária emite grandes quantidades de estolões e se ramifica vigorosamente.
Por isso, ela é mais recomendada para áreas de topografia acidentada, contribuindo para a recuperação de áreas com processo inicial de erosão.
É também de fácil manejo da dessecação. Mas atenção, para pastejos de longo período seria pouco recomendada, já que tem baixa tolerância ao pisoteio.
Qual espaçamento utilizar no consórcio milho-brachiaria
Você deve pensar no sistema que mais se adequa aos seus equipamentos disponíveis e qual a finalidade dessa brachiaria após o consórcio.
Porém, já se tem dados que em espaçamentos reduzidos da cultura do milho (de 45 a 55cm) e com plantios simultâneos das duas culturas, se obtém melhores resultados de equilíbrio e estabelecimento das populações com menores índices de competição.
Abaixo segue como ficaria os estabelecimentos das culturas em espaçamento normal (80 á 100cm) com as forrageiras implantadas com caixas intercaladas e com espaçamentos reduzidos (45 – 50 – 52 e 55 cm) em terceira caixa e à lanço.
Quantos quilos de semente de brachiaria por ha?
A quantidade de sementes por área é calculada em função do valor cultural das sementes, sendo Valour Cultural (VC) = [(pureza x germinação) /100)].
Ao longo dos anos de utilização do sistema, observou-se vários ajustes em relação qual a população ideal para modalidades de consórcio conforme gráfico abaixo.
Com o avanço das pesquisas, melhora na qualidade das sementes das forrageiras e novas tecnologias de implantação, foi possível trabalhar menores quantidades de sementes por área, além de melhores densidades e distribuição dessas populações por m².
Para um entendimento rápido, considerando que uma brachiaria seja confeccionada com 80% de pontos de VC informados na embalagem, ex: U. ruziziensis sendo a recomendação de 250VC/ha conforme gráfico acima, temos a seguinte fórmula:
Taxa (Kg/ha) = Recomendação/Pontos de VC informados na embalagem
Nesse exemplo, temos então: 250/80 = 3,125 Kg/ha de sementes de U. ruziziensis
Herbicidas em consórcio milho-brachiaria
Por vezes, é necessário suprimir a braquiária no consórcio por meio de aplicação de herbicidas. Para isso, podemos utilizar de subdoses isoladas (20% da dose de bula) de mesotrione 40SC, nicossulforon 40SC e tembotrine 42SC.
O importante é utilizar qualquer um dos produtos após 3 perfilhos da forrageira, evitando a morte das plantas e ocorrendo apenas o efeito de supressão.
Pode ser utilizado também doses normais da atrazina para controle das folhas largas, lembrando que o correto manejo de plantas daninhas na cultura antecessora é muito importante para que o consórcio se estabeleça de maneira adequada.
Para híbridos de milho resistentes ao glifosato alguns produtores utilizam baixas doses desse herbicida para suprimir a braquiária, porém a forrageira é muito sensível ao glifosato, sendo possível causar muita perda de massa verde e até mesmo o rebrote da planta.
Com um rápido estabelecimento da cultura de milho, formando um dossel com boa sobreposição sobre a forrageira, temos grandes chances de evitar a competição no sistema de consórcio e, consequentemente, a necessidade de aplicação de herbicidas.
Conclusão
O milho 2ª safra semeado em consórcio com braquiárias é uma ferramenta que com o tempo de uso na mesma área traz inúmeras vantagens.
Como principais benefícios, temos a ajuda no incremento na produção de grãos desse milho safrinha e na produção de palha como forma de viabilizar o Sistema Plantio Direto na sucessão soja milho de segunda safra.
É importante também ressaltar que o sucesso da implantação do sistema está inteiramente ligado ao manejo implantado, adaptação híbrido/brachiaria/sistema, qualidade das forrageiras e clima adequado à condução da integração.
Aqui vimos todas as dicas para que o sucesso no consórcio milho-brachiaria ocorra na sua área!
Bibliografia
*Colaboração de Carlos Eduardo Brasil Gonder, engenheiro agrônomo, especialista em proteção de plantas, Consultor de Desenvolvimento de Mercado, Helix Sementes.
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Tem mais dúvidas sobre o consórcio milho-brachiaria? Alguma sugestão? Deixe seu comentário abaixo!
bom dia; sou adepto da tecnologais e da agricultura de precisão. Quero realizar um experimento, plantando 02/04 alqueires no MS, de braquiária consorciada com milho. Gostei da aprsentação supra e das orientações. Sistema prático, didático e assás proveitoso. Comprei já sementes da MG4; posso consorciá-las com o milho? Neste caso, qual a melhor variedade: precoce, super precoce? Parabéns pela explanação retro
Olá! Pode sim, sempre respeitando a população ideal do híbrido e da forrageira neste tipo de sistema. No que diz respeito ao ciclo do híbrido não temos restrições, porém trabalhar com híbridos de bom arranque e de porte médio alto para não haver uma grande competição inicial entre as culturas. Se quiser indicação de material, nos informe sua cidade/estado e número de telefone para que nosso consultor técnico entre em contato. Abraço!