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Controle biológico de pragas: uso imprescindível

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Controle biológico: entenda o que é, como aplicar em sua propriedade e quais são os diferentes tipos, além das vantagens e desvantagens. 

O controle biológico é uma tática de manejo de pragas e doenças das culturas agrícolas, a qual se baseia na regulação de populações das pragas e patógenos pela ação de organismos vivos 

Um dos grandes aliados do MIP, o controle biológico pode ser utilizado de diferentes maneiras e em diversas culturas. 

Com o mercado de biológicos aquecido, as dúvidas sobre o assunto se tornam cada vez mais frequentes.  

Por isso, convidamos o professor Pedro Takao Yamamoto e Fernando Henrique Iost Filho, Juliano de Bastos Pazini, do Departamento de Entomologia e Acarologia da ESALQ/USP para explicar melhor sobre o tema. Confira!

O que é controle biológico?  

Como já comentamos, o controle biológico (CB) é uma tática de manejo de pragas e doenças que acometem as culturas agrícolas, a qual se baseia na regulação de populações das pragas e patógenos pela ação de organismos vivos. Sua premissa básica é controlar organismos-praga a partir de seus inimigos naturais. 

Em programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), cuja filosofia é o emprego de múltiplas táticas para manutenção de populações de artrópodes-praga abaixo de níveis que causem danos econômicos à produção, o controle biológico apresenta grande destaque.  

As razões para tanto são que a regulação das populações de pragas por inimigos naturais faz parte tanto da base do MIP (ao lado do monitoramento e identificação de pragas, reconhecimento dos níveis de dano e tomada de decisão), quanto dos pilares, sendo considerado uma das ferramentas de controle de pragas. 

Como é feito o controle biológico de pragas 

A redução de populações de pragas pela ação de inimigos naturais se dá de três maneiras principais: parasitismo, predação e patogenicidade. As duas primeiras estão mais relacionadas aos macroorganismos, enquanto a terceira, aos microrganismos. 

Os parasitoides exploram o corpo do hospedeiro em uma ou mais fases de vida (ovos, fases jovens ou adultos). Para que possa explorar os recursos disponíveis para completar seu ciclo, geralmente num único hospedeiro, o parasitoide não causa a sua morte imediata. Outra característica é que os parasitoides tendem a ser mais específicos quanto ao hospedeiro. 

Já a predação é representada pelo ato de predar (consumir) as presas (pragas), a exemplo do praticado pelos insetos e ácaros predadores.  

Não apresentam especificidade como os parasitoides, apesar de preferirem certos grupos de alimentos. Ainda, necessitam de mais de um indivíduo presa (geralmente muitos) para completar seu ciclo de vida. 

Por fim, a patogenicidade é o modo como os microrganismos regulam as populações de pragas. Ao infectar seus hospedeiros, os fungos, bactérias, vírus e demais agentes de controle microbiológico desencadeiam processos patogênicos nas pragas, levando-as à morte. 

Tipos de controle biológico 

Controle biológico clássico 

É aquele no qual os pesquisadores buscam e importam um inimigo natural de determinada praga de seu centro de origem.  

Nesse tipo de controle, são realizadas liberações inoculativas (pequeno número de inimigos naturais) uma ou mais vezes no local, de modo que a população inoculada irá se multiplicar e se manter no local com o passar do tempo. Assim, é considerada uma medida de longo prazo. 

O caso de sucesso mais conhecido foi a introdução da joaninha Rodolia cardinalis para o controle da cochonilha Icerya purchasi em pomares cítricos na California, EUA. Esse inimigo natural foi levado da Austrália para os Estados Unidos, em 1888, com elevada taxa de controle da praga. 

Outro caso de sucesso, mais recente e realizado em nosso território, foi a introdução do parasitoide Ageniaspis citricola para controle do minador-dos-citros, Phyllocnisitis citrella. Essa introdução foi feita por meio de parceria entre entidades públicas e privadas, e, após anos de pesquisa, foi comprovada a eficiência de introdução no país. 

Adulto do parasitóide exótico A.citricola 
Fonte: Fundecitrus 

Uma das limitações dessa estratégia é a necessidade de estudos aprofundados sobre os efeitos da introdução de uma espécie exótica sobre as espécies nativas. Atualmente, tem se destacado o uso de inimigos naturais já presentes na fauna nacional. 

Controle biológico conservativo ou natural 

Esse tipo de CB diz respeito às práticas conservativas realizadas para manter as populações de inimigos naturais já presentes na área, ou seja, fornecer subsídios ecológicos para que tais populações possam multiplicar e se manter na área. Desse modo, essa prática é baseada na preservação.  

Algumas das maneiras de se preservar os inimigos naturais na área são a utilização de produtos fitossanitários seletivos (aqueles que controlam as pragas e causam o mínimo de efeitos nocivos nos inimigos naturais), provisão de fontes de alimentos alternativas e manutenção de habitats. 

Controle biológico aplicado 

É o mais utilizado atualmente pelos produtores. Refere-se a liberações em grandes quantidades (inundativas) de agentes de controle em uma área, visando um controle mais rápido. É realizado em diversos sistemas produtivos, independentemente do tamanho da área ou da espécie cultivada.  

No Brasil, a utilização de agentes macrobiológicos passou por um aumento exponencial, em função, principalmente, de melhorias nos sistemas de liberação dos inimigos naturais. Já o aumento de utilização de controle microbiológico pode ser explicado pelas melhorias nas formulações e eficiência de controle, uma vez que a aplicação se assemelha muito às práticas convencionais de aplicação de defensivos químicos utilizadas pelos produtores rurais. 

Agentes de controle biológico 

Os agentes de controle biológico, também conhecidos como inimigos naturais, fazem parte de um grupo muito variado de espécies, famílias e até mesmo ordens. De maneira geral, podemos citar os macroorganismos (insetos e ácaros – primeira tabela abaixo) e microrganismos (vírus, bactérias, fungos, protozoários e nematoides – segunda tabela abaixo.  

Uso do controle biológico no Brasil 

No Brasil, até o momento, existem 376 produtos à base de ativos biológicos registrados no MAPA (https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons).  

Cerca de 60% correspondem a produtos microbiológicos e cerca de 18% a produtos macrobiológicos. É importante destacar que, dentre esses, mais de 60% são destinados ao controle biológico de insetos e ácaros fitófagos.  

Somente em 2020, 56 novos produtos foram registrados para utilização na agricultura brasileira, maior número de registros de produtos dessa característica em um mesmo ano.  

O protagonismo brasileiro não ocorre somente quanto ao incremento de produtos biológicos, mas também quanto à utilização prática.  

Atualmente, o Brasil hospeda o maior programa de controle biológico do mundo. Registram-se mais de três milhões de hectares de cana-de-açúcar empregando os parasitoides Cotesia flavipes e Trichogramma galloi para o controle da broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) e o inseticida microbiológico com isolados do fungo Metarhizium anisopliae para o controle da cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata).  

Além disso, milhões de hectares de diferentes cultivos agrícolas são tratados, todo ano, com Bacillus thuringiensisBeauveria bassianaIsaria fumosorosea e Baculovirus contra inúmeros artrópodes-praga. 

O mercado de controle biológico tem apresentado crescimento acentuado a cada safra, no Brasil. Na safra 2019/20, os movimentos do setor já se aproximaram da ordem de R$ 1 bilhão, um incremento de quase 50% em relação à safra de 2018/19, com destaque para as culturas da soja e cana-de-açúcar. 

Fonte: Spark Consultoria 

O referido protagonismo brasileiro, fomentado pela busca incessante por sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola e segurança alimentar, deve-se aos recentes avanços biotecnológicos, que tem permitido a prospecção de novos agentes, aprimoramento de formulações e de técnicas de criação em larga escala e taxas satisfatórias de eficiência de controle.  

Além disso, a forte investida em tecnologia e inovação para a liberação de agentes de controle biológico em áreas comerciais por drones tem viabilizado a expansão do controle biológico na agricultura de larga escala, já que foi superanda a dificuldade operacional para liberação no campo. 

Vantagens e desvantagens do controle biológico 

Dentre as vantagens do controle biológico, podemos citar a proteção da biodiversidade, já que age em nível do agroecossistema, além de elevada especificidade por agir seletivamente sobre o organismo-praga, não causando desequilíbrio no agroecossistema. 

Também podemos citar a redução da dependência de inseticidas químicos e, consequentemente, os problemas relacionados ao seu uso abusivo, como intoxicação de aplicadores, contaminação de alimentos e do ambiente, resistência das pragas-alvo, dentre outros.  

Ademais, o efeito do controle biológico pode ser mais prolongado em comparação ao controle químico, resultando em maior rentabilidade ao agricultor.  

Quanto às desvantagens, a implementação do controle biológico é mais complexa, pois exige conhecimento técnico, além de planejamento e gerenciamento intensivos. 

Ou seja, sua implementação é desafiadora, principalmente quanto à transposição de barreiras culturais, como a tradição de “matar” e não de “criar” ou “preservar” os organismos benéficos. Ao contrário do controle químico, a ação é mais lenta e sua especificidade é um entrave para culturas com muitas pragas.  

Além disso, os agentes de controle biológico sofrem forte influência negativa de fatores abióticos (temperatura, umidade, luminosidade, radiação, etc.) e da elevada carga de produtos fitossanitários (principalmente inseticidas) utilizados na agricultura. 

Conclusão 

Aqui vimos os conceitos básicos do controle biológico, além dos tipos existentes e os principais agentes utilizados. 

Também foi possível conferir o mercado do controle biológico no Brasil e quais são suas vantagens e desvantagens. Aproveite o conhecimento e comece a considerar essa opção em sua propriedade! 

Bibliografia 
*Colaboração de Pedro Takao Yamamoto e Fernando Henrique Iost Filho, Juliano de Bastos Pazini (Departamento de Entomologia e Acarologia da ESALQ/USP). 

MAPA. Agrofit. Disponível em: https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons . Acesso em: 2021. 

SPARK CONSULTORIA. Business Inteligence Panel Safra 2019-20. Disponível em: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2020/10/20/mercado-ja-se-aproxima-de-r-1-bilhao-no-pais.ghtml . Acesso em: 2021. 

Você já sabia de todas essas informações sobre o controle biológico? Ficou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo! 

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