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Análise Bromatológica: o que é e como fazer sua interpretação

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analise bromatologica

Análise bromatológica: entenda os principais parâmetros estimados e saiba como interpretar os resultados diante de um laudo bromatológico de silagem. 

Como interpretar uma análise de silagem? Essa é uma dúvida muito comum quanto às análises bromatológicas. 

O entendimento dos principais parâmetros é essencial para a interpretação de um laudo, bem como os principais fatores envolvidos nesse resultado. 

A partir disso, saberemos o que realmente estamos ofertando ao nosso rebanho e teremos uma boa ideia de quais serão os resultados em termos de produção animal. 

Foi pensando nisso que nós da Semente Biomatrix reunimos aqui as principais informações para fazer a interpretação correta da bromatologia de silagem além de outras dicas. Confira! 

O que é a análise bromatológica? 

A análise bromatológica dos alimentos é destinada à verificação da composição química dos mesmos, valor alimentício e calórico, propriedades físicas, químicas, toxicológicas e sua ação no organismo.  

Neste sentido, temos o conceito de bromatologia como a ciência que estuda os alimentos, com a função de analisar sua composição química, seu valor nutricional, seu valor energético, suas propriedades físicas e seus efeitos no organismo.  

Logo, conhecendo-se as propriedades dos alimentos pelos resultados das análises bromatológicas, pode-se fazer uma dieta mais econômica e de qualidade, aumentando a eficiência e diminuindo custos na produção de leite ou carne. 

 Outro conceito importante é o de valor nutritivo das plantas, sendo caracterizado pela sua composição bromatológica e a interação dessa composição com o consumo pelo animal, que vão influenciar a performance e a eficiência dos animais.  

O alto valor nutritivo da planta de milho, caracterizado pela alta digestibilidade e densidade energética, qualifica a silagem desta forrageira como ótima opção aos sistemas de produção animal1

 Entretanto, o valor nutritivo da silagem de milho pode variar conforme o híbrido e o manejo como densidade de plantio, maturidade e a umidade no momento da colheita, tamanho de partícula e os processos de ensilagem².  

Pela figura abaixo podemos observar as mudanças na composição química da forragem de milho antes e depois do processo de ensilagem. 

Métodos para realização da análise bromatológica 

Rotineiramente, os laboratórios especializados utilizam métodos baseados em alto padrão tecnológico para obter resultados confiáveis a partir das amostras vegetais.  

Os métodos convencionais de bancada que por sua vez são considerados mais seguros, são também mais trabalhosos e demorados.  

E os métodos com base na leitura por infra vermelho proximal (NIRS), que oferecem maior rapidez e precisão analítica, podem ser passíveis de erros, principalmente se não for eficiente a calibração das curvas referentes aos parâmetros analisados.  

Como interpretar uma análise bromatológica de silagem? 

A silagem de milho fornece de 50 a 100% a mais de energia digestível por hectare que qualquer outra forrageira.  

Dessa forma, vamos considerar a composição bromatológica da silagem de milho avaliada pelos seguintes parâmetros principais: 

Matéria Seca (MS) 


A determinação da matéria seca é o ponto de partida da análise de alimentos. Como o próprio nome diz, representa a fração do alimento onde se encontra todos os nutrientes, sendo a massa total descontada a umidade.   

 O conhecimento do percentual da MS contido na amostra é importante, pois é com base nele que se estabelece o cálculo da dieta, já que o consumo do alimento pelos animais é expresso em kg de matéria seca/animal/dia ³.  

A qualidade de matéria seca (MS) ideal é cerca de 35%. Esse valor é um importante parâmetro para ajudar o produtor a definir o ponto de colheita da silagem, de acordo com as seguintes relações: 

Baixa %MS (<30) 


Vai gerar maior perda por efluentes, menor energia, maior o consumo, menor valor nutritivo, menor produção por área e menor as fermentações indesejáveis. 

Alta %MS (>40) 


Terá maior dificuldade na compactação, maior deterioração aeróbica, produção de álcool e atuação de fungos e leveduras, maior perda na colheita, redução na digestibilidade do amido, baixa compactação (efeito colchão) e desuniformidade de partículas.  

Por exemplo, se uma lavoura plantada com o híbrido BM 3069 PRO2 obteve produtividade de 60 toneladas de matéria verde (MV) por hectare e que tenha apresentado um teor de 36% de matéria seca (MS) no momento da colheita, temos a seguinte situação: 

60 toneladas MV x 36% MS = 21,6 toneladas MS/ha 

Proteína Bruta (PB) 


A proteína bruta é determinada medindo-se o total de nitrogênio (N) do alimento multiplicado por 6,25 (pois as proteínas têm em média 16% de N no aminoácido). A PB ideal é entre 6 a 8%. 

A PB nunca será o forte da silagem, por isso há complementos proteicos na dieta, como farelo de soja, ureia, alfafa, etc.  

Fibra em Detergente Neutro (FDN) 


A fração fibrosa do alimento que não é digerida ou que é insolúvel quando em contato com a solução detergente neutro, consideramos que será a FDN.  

Dessa forma, a FDN corresponde a celulose, hemicelulose, lignina, pectina e sílica, sendo o melhor indicativo para saber o teor de fibra que será importante para manter a função ruminal e ter uma estimativa da qualidade da silagem. 

Se o milho é colhido com a MS mais elevada, o teor de FDN da planta aumenta (fica mais fibrosa) mas, em compensação, a participação de grãos é maior. Assim, quanto maior o teor de FDN, menor o consumo e menor a taxa de fermentação e digestão das fibras, com esvaziamento mais rápido do rúmen. 

EX.: Consumo de MS da forragem: Uma silagem do híbrido BM 3066  apresentou 48% de FDN. Em média, terá um consumo estimado em 2,5 % do peso vivo do animal em MS. Uma vaca de 600 kg de peso vivo (PV), terá 600Kg PV x 2,5% de consumo de MS, ou seja, podendo comer algo em torno de 15 Kg de MS/dia desta forragem.  

Ideal: FDN entre 48 e 55%.  

Digestibilidade da FDN (DFDN) 


A digestibilidade da FDN é um parâmetro que também está relacionado a qualidade da forragem. Existe uma variabilidade entre os diferentes híbridos quanto a sua degradabilidade ruminal, sendo que ela é em função da fração potencialmente digestível e da taxa de digestão ou passagem.  

O melhoramento genético vegetal tem proporcionado o surgimento de híbridos com maior coeficiente de digestibilidade de fração fibrosa, com menor concentração de lignina e maior coeficiente DFDN, com pouca alteração no conteúdo da FDN e PB 4.  

Uma boa DFDN proporciona maior desempenho animal, mesmo quando temos alta concentração da FDN da dieta. A DFDN ideal está entre 50 a 58%.  

Fibra em Detergente Acido (FDA) 


A FDA representa as frações de celulose + lignina + pectina + sílica, ou seja, a parte fibrosa que não é digestível, estando contidas no FDA. Dessa forma, quanto menor o teor de FDA maior a digestibilidade e qualidade da silagem. Ideal: FDA entre 23 a 35% 

As diferenças básicas entre FDN e FDA podem ser resumidos de acordo com o esquema abaixo: 

Célula vegetal = conteúdo celular + FDN         

FDN = FDA + hemicelulose         

FDA = Celulose + lignina + pectina + sílica 

Como podemos relacionar a FDA com a digestibilidade, podemos ter uma ideia do valor energético da silagem ao calcular o NDT (nutrientes digestíveis totais), pela seguinte fórmula: 

%NDT = 87,84 – (0,70 x % FDA) 

Logo, se o FDA é de 23% temos: 87,84 – (0,70 x 23) = 71,74 %NDT 

Mais à frente veremos detalhes sobre os nutrientes digestíveis totais (NDT). 

Fibra Bruta (FB) 


A determinação de FB compõe basicamente as frações de celulose e lignina, responsáveis pela estrutura celular das plantas. Na FB, a amostra seca e desengordurada do alimento é submetida à digestão ácida (solução de ácido sulfúrico), seguida por uma digestão básica (solução de hidróxido de sódio).  

 O grande problema dessa análise é que parte dos componentes da parede celular (celulose e lignina) são solubilizadas.  

Assim, a FB subestima o valor real da fibra e, portanto, os teores de FDN e FDA são sempre maiores que a FB. Diante do exposto, o recomendável é utilizar o FDN. 

Amido (AM) 


O amido (AM) está relacionado ao grupo dos carboidratos não fibrosos e constituem uma fração de grande importância energética na composição bromatológica, sendo a principal fração da silagem, pois corresponde à maior parte da energia contida na silagem.  

Todo o amido vem do grão e, comparativamente, quanto maior a participação de grãos, menor o teor de FDN e FDA, logo, maior será o NDT. Ideal: AM acima de 28%. 

EX.: Pode-se estimar o teor amido (%AM) de uma silagem da seguinte maneira: 

% AM = 100 – (% FDN + % PB + % MM + EE) 

Uma silagem com 48% de FDN; 6% PB; 11% MM e 3% EE, temos: 32% de AM 

Nutrientes digestíveis totais (NDT) 


O NDT é um dos parâmetros mais empregados para expressar a energia de uma silagem. O ideal é o NDT acima de 60%. 

Ele é semelhante ao valor da energia digestível do alimento, podendo ser utilizado para descrever os valores das necessidades energéticas do animal para formulação de rações.  

Para seu cálculo, segue-se os princípios de Wendee (Sistema Proximal), considerando a soma das frações digestíveis, como proteína bruta (PB), fibra bruta (FB) ou (FDN), extrato etéreo (EE) que contribui com 2,25 vezes mais energia que os demais e a matéria mineral (cinzas) (MM), conforme equação:  

NDT (%) = %PB + %FB + %MM + (%EE × 2,25) 

 EX.: Uma silagem com 6% PB; 48% de FB; 11% MM e 3% EE, temos: 71,75% de NDT 

Digestibilidade da matéria seca (DMS) 


A digestibilidade é a relação entre a quantidade de alimento que o animal ingere e a que digere, sendo esta última aquela parcela que é efetivamente assimilada, que entra no metabolismo propriamente dito do organismo animal. A DMS ideal fica acima de 60% 

DMS = 88,9 – (0,779 x %FDA) 

EX.: Uma silagem com 25% de FDA, temos: 69,4% de DMS 

Nitrogênio Amoniacal (N-NH3) 


O teor de nitrogênio amoniacal está associado com a qualidade da fermentação da silagem. Diante disso, podemos fazer a seguinte associação:  

N-NH3 (>10) 


Houve uma demora no fechamento do silo ou a colheita foi realizada com baixa %MS, o que resulta em maior período de fermentação de baixa qualidade (período aeróbico alongado) com ocorrência de perdas de N (proteases e volatilização de amônia).  

Lembrando que o ideal é o N-NH3 Menor que 10%. 

Matéria Mineral (MM) 


A matéria mineral é obtida pela determinação da cinza, que fornece apenas uma indicação da riqueza da amostra de silagem em elementos minerais e possui valor nutricional quase nulo.  
 
Como corresponde a fração não orgânica, se tivermos níveis mais elevados de MM na silagem, ela certamente terá menores níveis de energia.  

Ideal: MM de 3 a 4% 

Extrato etéreo (EE) 


A fração de EE refere-se as gorduras ou lipídeos, compondo o teor de óleo na silagem. São substâncias insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos como éter, clorofórmio, benzeno e outros. O ideal é EE de 3 a 3,6%. 

Em relação ao grão, cada grama de óleo tem 2,25 vezes mais energia que um grama de carboidrato (amido ou açúcares), no entanto, na silagem de planta inteira os níveis de óleo são baixos e, por isso, pouco interferem na qualidade total.  

A gordura é a fração mais energética dos alimentos e assim como os carboidratos, é composta de carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O). Porém, na fração de gordura estes elementos são encontrados em quantidades mais elevadas, conforme tabela abaixo: 

Energia liquida para lactação (ELL) 


Quanto maior a produção de leite, maior a demanda energética e proteica. A energia requerida para lactação é reflexo da energia contida no leite produzido.  
 
Por sua vez, a concentração de energia do leite é resultado da soma da combustão da gordura, proteína e lactose. Portanto, quanto maior a qualidade da silagem, maior será sua carga energética que será absorvido pelo animal, potencializando sua produção de leite. 

Ideal: ELL acima de 1500 Mcal/kg. 

Ácidos produzidos pela fermentação 

Durante o processo de fermentação da silagem, na fase anaeróbia, ocorre a produção de ácidos orgânicos resultantes do metabolismo de carboidratos solúveis, causando redução no pH.  

Em condições normais, o ácido lático é o produto final mais abundante em silagens, gerados por bactérias homo e heterofermentativas. Como também são produzidos outros tipos de ácidos de diferentes grupos de bactérias, deve- se considerar como ideal o seguinte:  

  • Ácido lático:  6 a 8%  
  • Ácido acético: menos que 2%  
  • Ácido butírico: menos que 0,1% 

Como realizar a amostragem para laboratório fazer a análise bromatológica 

Para coletar amostras deve-se tomar bastante cuidado para não gerar diagnósticos e recomendações equivocadas devido a erros na amostragem.   

Normalmente, na abertura do silo, após camada inicial de 30cm, faz-se a coleta entre 8 a 13 pontos representativos na parede do silo, através de buracos na massa onde são coletadas as amostras em seu interior.  

Em silos de garrafas Pet, tubos de PVC ou sacos herméticos, a coleta da amostra ocorre na região mediana. 

Deve-se aguardar o processo de fermentação da silagem, o que deve estabilizar em 20 a 30 dias após o fechamento, para depois serem enviadas ao laboratório, sendo as amostras de aproximadamente 300g e de preferência compactadas e congeladas. 

Veja também:  

Conclusão 

Considerando-se os vários aspectos do valor nutricional dos alimentos e sua determinação, o avanço no conhecimento da composição nutricional e das metodologias de análise é essencial na tomada de decisão para atender as exigências dos animais. 

 A interpretação correta dos parâmetros bromatológicos seguidos de uma análise de alta confiabilidade, fornece subsídios para o produtor no momento de balancear a dieta a partir do volumoso. 

É assim que vamos garantir, de forma eficiente, uma adequada produção, seja de leite ou carne. 

Bibliografia 

*Autor: Carlos Henrique Pereira. Engenheiro agrônomo (UFLA), mestre e doutor em Genética e Melhoramento de Plantas (UFLA), consultor de desenvolvimento de mercado da Biomatrix.  

¹ZOPOLLATO, M.; SARTURI, J.O. Optimization of the animal production system based on the selection of corn cultivars for silage. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON FORAGE QUALITY AND CONSERVATION, 1., São Pedro, 2009. Proceedings… Piracicaba: FEALQ, 2009. p.73-90. 

²VELHO, J.P.; MÜHLBACH, P.R.F.; GENRO, T.C.M. et al. Alterações bromatológicas nas silagens de milho submetidas a crescentes tempos de exposição ao ar após “desensilagem”. Ciência Rural, v.36, n.3, p.916-923, 2006. 

³RODRIGUES, Ruben Cassel. Métodos de análises bromatológicas de alimentos: métodos físicos, químicos e bromatológicos. Embrapa Clima Temperado-Documentos (INFOTECA-E), 2010. 

4 MOREIRA, V. R.; SANTOS, H. S.; SATTER, L. D. et al. Produção de leite de vacas alimentadas com alta proporção de forragem em dietas. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, n.2, v.55, p.197-202, 2003. 

Você conhecia todos esses parâmetros da análise bromatológica? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo! 

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